NOME DE POBRE NO BRASIL

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

LEITE DA MULHER AMADA OU DA MÃE AMADA?

No Brasil, deu-se tradução libidinosa a um vinho branco, meio doce, de garrafa azul, importado da Alemanha. É o “Liebfraumilch” (leite da mulher amada). O nome é referência à “Liebfrauenstift Kirche” (Igreja de Nossa Senhora). “Milch”, em alemão antigo, é variante de “Minch” e “Monck”, monge. “Frau” é Senhora. E “Lieb” pode ser amada, bondosa, querida. Como se vê, o que era sagrado na Alemanha, virou profano no Brasil. Leites impossíveis aparecem em outras expressões, de que é exemplo “beber leite de galinha”, antiga forma de designar coisa rara e preciosa, mas impossível de ser obtida. Foi registrada nas comédias “Os pássaros” e “As vespas”, peças do grego Aristófanes ( entre séc. V e IV a.C.). Autores latinos, como Luciano e Petrônio, também mencionaram a raridade, mas Plínio, que cochilava e mentia mais do que Homero, atestou ter bebido leite de galinha, dizendo-o de gosto bom. Nas literaturas francesa, italiana e polonesa também encontramos essas impossibilidades. No Brasil, vindo de Portugal, chegou outro leite impossível, o leite de pato. Trabalhar a leite de pato é fazer o serviço de graça, e jogar a leite de pato é jogar sem envolver dinheiro. E o leite batizado? Antigos entregadores, aproveitando-se que o leite era gordo, misturavam-lhe água, fraudando aqueles a quem deveriam entregar leite puro. A expressão nasceu do gesto do padre, que, no batismo, derrama água sobre a cabeça da criança quando lhe administra o sacramento. Uma coisa santificada ajudou a designar atividade ilícita. O leite está também no pedido “me dá um pingado”, em que há elipse da palavra “leite”. O que se quer é um café no qual seja pingado um pouco de leite, isto é, que tenha mais café do que leite. Já esconder o leite é ocultar alguma coisa, como fazem as vacas durante a ordenha manual. Mãe amorosa, a vaca esconde o leite, que depois libera para o bezerro, condenado a ficar só com o apojo. Leite da mulher amada é libidinoso. Mas da mãe amada, como sugere o original em alemão, não! (xx)

4 comentários:

  1. Conversamos sobre esse assunto, as origens das palavrras, e fiquei sem respostas do email enviado onde volto a afirmar que a palavra Farmácia tem no grego o significado de feitiçaria: Caro amigo:
    Deonísio da Silva:
    Bom dia!
    Consultei em seu livro a palavra, Φαρμακοπεια, Farmacopéia, (sumiu o acento) agora é, farmacopeia, fabricação de medicamentos.
    Com respeito e respeitosamente se referindo mais uma vez ao significado da palavra, Φαρμακευτικός, (kós: sufixo para indicar o possuidor, no caso forma o adjetivo, farmacêutico), aquele que prepara medicamentos. Seus derivados, entretanto avança em direção à magia, talvez porque, a medicina era vista como coisa, oculta.
    Em seguida temos a palavra,Φαρμακίς "famarkis" com o significado de, preparar medicamentos e fazer uma feitiçaria, como é um substantivo feminino, seria então, "a que prepara medicamentos", feiticeira.
    Farmakion, Φαρμάκιον (neutro) que vem a ser, medicamento;Φαρμάκον, droga, medicamento, medicina, veneno, também significa, encantamento, beberagem mágica, enfeite e pintura
    Em seguida o dicionário de Isidro Pereira, S.J. editado pela, Livraria Apostolado da Imprensa da cidade do Porto, consta, Φαρμακός, Farmacós, um substantivo; com o sentido de: mago, bruxo. O verbo, Φαρμακόω, é envenenar, bem similar ao verbo,Φαρμακάω, farmakao, delirar, (por envenenamento) e necessitar remédios.
    No Novo Testamento, em uma Carta de Paulo podemos encontrar essa palavra com esse sentido a que me referi,Φαρμακεία "farmakêa" ou Φαρμακον "farmakon", traduzido como, feitiçaria. (Gálatas 5.20).
    Evidentemente que não tenho nenhuma opinião contra os farmacêuticos, e que tudo isso é uma questão semântica.
    Abraços
    Inaldo F Barreto

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  2. Gostaria de saber de onde veio a palavra Hipocrisia. Tem alguma relação com os discursos de Hipócrates?

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  3. Nesses dias de quarentena, nada melhor do que aprimorar a cultura. O texto do Prof. Deonísio de 4 anos atrás sobre a interpretação ibidinosa brasileira do Liebfraumilch e leite atribuídos a não mamíferos é um primor. Como também os doutos comentários do Prof. Inaldo Barreto sobre farmácia e feitiçaria.

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