NOME DE POBRE NO BRASIL

sábado, 19 de julho de 2014

O QUE CONTAM AS MOEDAS: DO TOSTÃO AO REAL

Para muitos, o real não tem plural. Dizem “dois real, cinco real, dez real” etc. Mas o plural do real antigo, que existiu de Dom Manuel a Getúlio Vargas, que o substituiu pelo cruzeiro, era pronunciado direitinho: réis. Em 1994, depois de mudar de nome seis vezes, o cruzeiro voltou a ser real, no governo de Fernando Henrique Cardoso, mas o plural “réis” desapareceu A moeda mais popular, porém, foi o tostão, presente em numerosas expressões para designar pouco dinheiro, ao lado do vintém, e no lema da campanha do presidente Jânio Quadros, “o homem do tostão contra o milhão”. Tostão deriva da palavra italiana “testone”, cabeça grande. O primeiro “testone” era de prata e trazia a efígie do príncipe Galeazzo Maria Sforza, Duque de Milão. Sforza era um mecenas, mas também um homem devasso e cruel. Trazia moças para desvirginá-las em seu palácio, mandou matar de fome um padre que previu para ele um reinado curto, e ameaçou matar um caçador se não engolisse inteiras, com couro, patas e tudo, as lebres que havia caçado. Por que um sujeito violento, desumano e tarado tinha interesse em financiar o trabalho de um artista e cientista como Leonardo Da Vinci, então? A família Sforza enriqueceu com o comércio, tornou-se burguesa e viu no mecenato o caminho mais curto para alcançar o status de nobre. Alguns restos de contas a pagar, porém, poderiam resultar em vinganças inauditas. E o primeiro poderoso a aparecer no “testone” morreu assassinado aos 32 anos. Quem o matou não foi Visconti, cuja irmã ele desvirginara; nem o republicano Olgiati, cujo ódio era ideológico; foi Lampugnani, que tinha disputas de terra com a vítima. Ele ajoelhou-se diante do príncipe e, depois de algumas palavras, levantou-se e deu-lhe punhaladas mortais na virilha e nas costas. As moedas falam. Mas para isso é preciso pesquisar sua história. (xx) º escritor e professor, da Academia Brasileira de Filologia, diretor da Editora da Unisul.

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