NOME DE POBRE NO BRASIL

sexta-feira, 28 de março de 2014

O HOMEM QUE NÃO SABIA JAVANÊS

A quarta língua mais falada hoje no mundo é o Português. As três primeiras são o Mandarim, o Espanhol e o Inglês. A décima é uma das línguas da Indonésia, o Javanês, idioma do grupo malaio-polinésio, falado originalmente na ilha de Java, na Oceania, daí o nome. Esta atrás do Japonês, do Russo, do Bengali, do Hindi e do Alemão, segundo nos informa o Observatório da Língua Portuguesa. Mas essa classificação é controversa. “O homem que sabia javanês” não falava javanês e dá título a um conto de Lima Barreto. Depois de aprender rudimentos de língua tão desconhecida de todos, o “senhor Castelo” arruma boas ocupações e é designado para representar o Brasil em congresso internacional de Linguística. Ao voltar do exterior, é recebido no cais Pharoux como “uma glória nacional”. Aclamado por todas as classes sociais, almoça com o presidente da República. Pouco tempo depois é nomeado cônsul em Havana, onde passa seis anos, e para onde voltará, a fim de aperfeiçoar os seus estudos das línguas da Malaia, Melanésia e Polinésia. Eis como tudo começou para o “senhor Castelo”: “Eu tinha chegado havia pouco ao Rio e estava literalmente na miséria. Vivia fugido de casa de pensão em casa de pensão, sem saber onde e como ganhar dinheiro, quando li no Jornal do Comércio o anúncio seguinte: Precisa-se de um professor de língua javanesa".
Ele vai à Biblioteca Nacional, pede o volume da letra J de uma enciclopédia, onde fica sabendo que Java é ilha de um arquipélago colonizado pela Holanda. Aprende o alfabeto, algumas frases, duas ou três regras de gramática e cerca de vinte palavras de Javanês. Vai então à casa da pessoa que precisa aprender Javanês, o “Doutor Manuel Feliciano Soares Albernaz, Barão de Jacuecanga”, e acaba enganando o infeliz, fazendo-o crer que realmente sabe Javanês. Mas antes passa por alguns sobressaltos durante a entrevista para arrumar o emprego. O futuro empregador lhe pergunta, “com aquela teimosia peculiar aos velhos”, onde ele aprendera Javanês. Tomado de surpresa, o malandro inventa uma porção de mentiras. Diz que seu pai, tripulante de um navio mercante que aportara na Bahia, era um javanês que resolveu ficar no Brasil, onde casara, prosperara e naturalmente ensinara sua língua ao filho. Por que então a trapaça deu certo, se o professor de Javanês não se parecia com um javanês? A explicação do malandro: “Não sou lá muito diferente de um javanês. Estes meu cabelos corridos, duros e grossos e a minha pele basané podem dar-me muito bem o aspecto de um mestiço malaio…”. Afinal, o Brasil é um país de imigrantes que vieram de todos os lados: “Entre nós, há de tudo: índios, malaios, taitianos, malgaches, guanches, até godos. É uma comparsaria de raças e tipos de fazer inveja ao mundo inteiro”. O Barão quis aprender Javanês porque herdara do pai um livro escrito em javanês. E, segundo a crença paterna, era um livro que evitava desgraças e trazia felicidades. No Brasil, duzentos milhões falam a quarta língua do mundo. Mas quantos leem nela? (xx)

quarta-feira, 26 de março de 2014

CACAU, CHOCOLATE, GABRIELA

Hoje falamos de CACAU, que já significou dinheiro. Hoje é dia do CACAU. Quem deu este nome foi Cristóvão Colombo, que não sabia pronunciar o nome desse fruto na língua "nauatle", falada no México pré-colombiano por astecas e maias, cultivadores de cacau. Eles pronunciavam KABKAJ, que quer dizer suco amargo. O verdadeiro cacau parece ter pimenta na composição. Por isso os espanhóis passaram a a acrescentar leite e açúcar e o tomavam quente. Surgiu então a palavra CHOCOLATE, de "chacauh", quente, e "haa", bebida: bebida quente. Hoje alguns fabricantes acrescentam pimenta ao cacau, para lembrar o antigo sabor.
O principal produtor de cacau é a Costa do Marfim,com trabalho e escravo e infantil. No Brasil, ele dava naturalmente na Amazônia e foi trazido para a Bahia, estado onde melhor se aclimatou. CACAU é sinônimo de dinheiro porque os países que eram contra Napoleão apoiaram Dom João VI no incentivo ao cultivo e à exportação do produto, que gerou grandes riquezas, chegando a marcar um dos ciclos econômicos com o seu nome, o CICLO DO CACAU, no século XIX. Na literatura, o ciclo do cacau resultou em grandes romances de Jorge Amado, como GABRIELA,CRAVO E CANELA, que se passa no auge da riqueza do cacau, na década de 1920. O título deveria ser GABRIELA, CRAVO, CANELA E CACAU.

terça-feira, 25 de março de 2014

JORNALISTA GAÚCHO DERROTA DESEMBARGADOR NO STF

O jornalista gaúcho Jayme Copstein é meu querido amigo. E personagem de meu romance ORELHAS DE ALUGUEL. Ele precisou recorrer ao STF porque um desembargador queria ser indenizado porque, a seu ver, Copstein debochou de sua decisão de conceder regime semiaberto a um dos líderes do PCC no Rio Grande do Sul. Copstein ganhou a causa. Jornalistas podem criticar, ironizar etc., desde que não faltem com o respeito. É aquilo que Joca Ramiro diz a seu bando quando um dos jagunços quer sangrar um desafeto por deboche: "Ele não falou o nome da mãe".

O CERTO É XEIRA-TE FREITAS E NÃO TEIXEIRA DE FREITAS (RISOS)

Meu querido amigo dos tempos da adolescência em SC, Osvaldo Della Giustina, me lembrando passagem hilária de dois deputados federais notáveis do passado. Teixeira de Freitas quis corrigir Flores da Cunha, que usava e abusava do pronome oblíquo no começo das frases, como faz todo mundo, especialmente os gaúchos: "É lamentável que V. Exa., cultor da língua portuguesa, inicie uma frase com o pronome oblíquo, "me disseram", quando o correto seria "disseram-me". Resposta de Flores da Cunha, na bucha: "A ser absoluta a correção de V. Exa., seu nome deveria ser Xeira-te Freitas!"

segunda-feira, 24 de março de 2014

TUBÉRCULO, TUBERCULOSE, SAPO CURURU E MANUEL BANDEIRA

A língua portuguesa tem a expressão "ouvido de tuberculoso". Hoje é o Dia Mundial do Combate à Tuberculose, que tem este nome vindo da palavra tubérculo, que em Latim "tuberculum", quer dizer inchaço, protuberância (nos pulmões). E pulmão veio do Grego "pneuma", ar, do mesmo étimo de pneu, e de espírito.
O poeta Manuel Bandeira sofreu muito com a doença e fez um poema triste sobre a tuberculose, onde narra ter ido ao médico, este pede que ele diga "33" e o médico reconhece que o cliente está tuberculoso e a "a única coisa a fazer é tocar um tanto argentino". Tuberculoso, ele não pôde ir à Semana da Arte Moderna no Rio. Ronald de Carvalho leu o poema dele, OS SAPOS, abaixo de vaias, porque era debochado contra os parnasianos, como no trecho final:
"Outros, sapos-pipas (Um mal em si cabe), Falam pelas tripas, - "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". Longe dessa grita, Lá onde mais densa A noite infinita Veste a sombra imensa; Lá, fugido ao mundo, Sem glória, sem fé, No perau profundo E solitário, é Que soluças tu, Transido de frio, Sapo-cururu Da beira do rio..." E o médico paulista Manuel Abreu inventou a abreugrafia, que muito ajudou e ajuda a detectar a tuberculose.

sexta-feira, 21 de março de 2014

DISSE POUCO, NÃO TIVE TEMPO

O gaúcho Carlos Amaral Freire completará 83 anos em outubro deste 2014. Vive num sítio em Morro das Pedras, nas proximidades da Ilha do Desterro (SC), cujo nome foi mudado para Florianópolis. Eu o conheci ano passado. Para encontrá-lo fui ajudado por Janer Cristaldo, escritor, tradutor e jornalista, e por Ana Maria Oliveira, minha amiga do Facebook. Graças aos dois, marquei um jantar com o maior poliglota vivo do mundo. A amizade é um tesouro. E onde está nosso tesouro, ali está nosso coração. Convidei para jantar conosco Wilson Volpato, este um dos amigos mais queridos que tenho na vida, meu ex-colega de seminário nos tempos de adolescência, a quem homenageei no romance “Teresa D´Ávila”. Aliás, a rede da amizade é urdida com muitos fios, de várias procedências. A artista plástica Arlinda Volpato, que fez recentemente algumas das mais belas capas de meus livros, entre as quais a da 17a edição de “De onde vêm as palavras”, vem a ser a esposa de Wilson. Lá fomos nós três jantar com Carlos. Arlinda, como toda artista, é muito intuitiva. Percebi que foi a primeira a sacar quem estava diante de nós. Wilson e eu estávamos um pouco desconfiados, afinal o homem diante de nós podia ser um charlatão. Como pode alguém saber 162 línguas? O cardeal italiano Giuseppe Mezzofanti, que viveu entre os séculos XVII e XVIII, conseguia traduzir 114 línguas, mas morreu esquecido de todas, menos uma, o Caló, um dialeto cigano. Já trabalho com a hipótese de que esse cardeal amava uma cigana, pois o amor não deixa morrer nada… Todavia Carlos logo manifestou, meio sem querer, instigado por nós, seu domínio de Grego, Latim, Italiano, Francês, Espanhol, Alemão etc., naquele nosso primeiro encontro. Tradutor juramentado de 12 línguas, tradutor de poemas escritos em 60 línguas (ver o livro “Babel de Poemas”, Editora L&PM), Carlos continua vivendo em Florianópolis. Voltei a encontrá-lo na semana passada. Contou-me que estava andando pelo shopping, sentiu-se mal, demorou a ser atendido no hospital, mas os médicos resolveram seu infarto. Quando se recuperava, a enfermeira lhe disse que a casa dele tinha sido arrombada por ladrões, que levaram tudo (dinheiro, joias, recordações preciosas etc.), menos o cachorro. Perguntou dos livros. A enfermeira disse que estavam intactos! Ele ficou tranquilo. “Ladrões não gostam de livros”, ela disse. Pois é, larápios têm esse ponto em comum com muitas pessoas. E me atrevi a mudar a tradução que ele fez dos versos do Prêmio Nobel Czeslav Milosz. Usei os recursos de uma elipse e de uma inversão sintática, por achar que assim o texto fica ainda mais bonito: “Krótki dini,/ Krótki noce,/ Krótki lata./ Tak malo powiedzialem,/ Nie zdaqzilem” (Curtos os dias,/ Curtas as noites,/ Curtos os anos./Eu disse tão pouco,/ Não tive tempo). Ao me despedir, nem lhe contei que estou estudando Hebraico e Polonês. Diante de quem sabe 162 línguas, eu me sinto um iniciante. E temos outro ponto em comum: ele foi assaltado por ladrões; eu, pelo governo, no contracheque e nos impostos exagerados. (xx)

quinta-feira, 20 de março de 2014

NOMES DE PESSOAS EM PALAVRAS DO PORTUGUÊS

Se você quiser ouvir o programa, faça o download no link abaixo. http://www.hightail.com/download/elNKSmJ4SU9JMHZ2WnNUQw Nomes de pessoas que viraram palavras. HANSENÍASE (novo nome da lepra, que em Grego quer dizer escamação, depois que o norueguês Gerhard Frankfurt isolou o bacilo da lepra), ABREUGRAFIA (do nome do médico paulista Manuel de Abreu, que inventou este novo método de diagnosticar a tuberculose) , GUILHOTINA (do nome do médico francês Joseph Ignace Guilhotin, que propôs a lâmina louisette, inventada por um certo Luís, para humanizar as execuções na Revolução Francesa: ele também foi guilhotinado), NICOTINA ( do francês Jean Nicot, então embaixador da França em Portugal, ao enviar sementes de tabaco à rainha Catarina de Médicis),
LARÁPIO (do nome do juiz romano Lucius Antoniu Rufus Apius, que se assinava L.A.R.APIUS, e vendia sentenças, era ladrão), ALGARISMO (da localidade de Al Kharizm, onde morava o matemático árabe Jafar Moahmed Ibn Musa, que viveu no século IX), MAUSOLÉU (do túmulo do rei Mausolo, uma das 7 maravilhas da antiguidade, por suas dimensões extraordinárias) , CRASSO (do nome de um general romano, Marco Licínio Crasso, que fez grande erro de estratégia e perdeu célebre batalha contra os partos, perecendo ele também), BOICOTE (do nome do inglês Charles Boycott, que liderou uma revolta de camponeses), FILIPETA (do nome de um comerciante brasileiro que vivia no Rio, era dono de frota de táxis e emitia notas promissórias frias), À BEÇA (do nome do jurista alagoano Gumercindo Bessa, que falava demais), ZEPELIM (do nome do conde Zepelim, que construiu o dirigível que levou seu nome), ALFARRÁBIO (do nome de um sábio de Al Farabi, que anotava tudo em papéis, que ia guardando sem muita ordem, virando papéis velhos), BALZAQUIANA (do nome do escritor francês Honoré de Balzac, cujas personagens emblemáticas têm um charme especial, por volta dos 30 anos), BADERNA (do Latim, designando bagunça, mas reforçada pela presença da dançarina italiana Marietta Baderna, que causou furor no Rio, quando visitou a cidade, em 1851), DALTÔNICO (do nome do físico inglês John Dalton, portador da deficiência que mistura as cores, fenômeno que ele estudou) e SAFADO (de um étimo árabe que significa desaparecido - o grumete e o marinheiro desapareciam no navio e escapavam ao trabalho -, com influência do nome de Safo, a poetisa que Platão considerou a décima musa: ela vivia na Ilha de Lesbos e defendia as homossexualidades, muito condenadas depois do advento do cristianismo). Hightail www.hightail.com Hightail helps 43 million professionals around the world securely share files and folders from anywhere.

segunda-feira, 17 de março de 2014

BOLINAR O NAVIO, BOLINAR A MOÇA. ORÇAMENTO A FAVOR DO VENTO

No PITADAS DO DEONÍSIO, hoje, na BandNews Fluminense, Pollyanna Bretas, Maíra Gama e eu tratamos de palavras que nem parecem que vieram das lides náuticas, como BOLINA e ORÇAMENTO. Navegar à bolina é puxar os cabos do navio para aproveitar melhor o vento. Orçamento tem sentido semelhante. ORZA, em Italiano, designa o lado da embarcação: ele deve ser ajustado ao vento para melhor navegação. E esse significado passou para a contabilidade, para a economia etc., no sentido de calcular outros ventos...No caso de BOLINA, o rapaz senta-se ao lado da moça, coladinho a ela, como o cabo à embarcação, para, havendo vento favorável por parte dela, boliná-la...

domingo, 16 de março de 2014

QUEM TRAIRÁ PRIMEIRO?

Deonísio da Silva Publicado em O Globo: 16/03/14 - 0h00 O Brasil dá sinais de que vai mudar. Um ciclo ameaça completar-se. Tornando-nos ou não hexacampeões mundiais de futebol, reelegendo ou não a presidente Dilma, mudaremos! Raramente mudamos sem traições. Joaquim Silvério dos Reis traiu Tiradentes, mártir de nossa Independência política, enforcado e esquartejado por ordem da rainha Maria I, avó de Dom Pedro I. Este, ao proclamar a Independência, traiu a memória da avó e também a Coroa portuguesa, à qual servia. Dom Pedro II, seu filho, foi traído pelo marechal Deodoro, que, apesar de monarquista, proclamou a República! Assim, talvez fosse produtivo olharmos, de esguelha que seja, para o tema da traição, que tem Judas Iscariotes por emblema, ainda que haja uma releitura dos eventos da história da salvação para dizer que Judas não traiu, foi traído. E que entregou Jesus, seu aliado e amigo, ao sinédrio judaico, com a esperança de que ele enfim liderasse uma revolta contra Roma. Desesperado, o traidor se suicida, numa das versões bíblicas. Em duas outras, cai, parte-se-lhe a barriga e o chão fica cheio de sangue. Para entender personalidades referenciais da vida brasileira atual, sem os condenar nem os absolver, que isso quando muito é tarefa do Judiciário ou da História, precisamos atentar para alguns sinais. Como se comportaram certas personalidades e o que disseram depois que a esquerda chegou ao poder com Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, continuando com Lula e Dilma? Nas palavras insuspeitas de Darcy Ribeiro, era um luxo termos um presidente como Fernando Henrique Cardoso. Mas FH, tendo derrotado Lula em duas eleições presidenciais, tornou-se um verdadeiro homem sem qualidades para muitos de seus ex-colegas de esquerda. Quando o convidaram para fundar o Partido dos Trabalhadores, por exemplo, ele já não era o que era? Seus dois governos foram considerados por essas figuras das quais tudo se perdoa apenas um interstício doloroso a suportar até que o boia-fria Sassá Mutema fosse entronizado como “O salvador da pátria”. O grande Dias Gomes sabia das coisas e naquela telenovela não foi a única vez em que ele foi profeta. Do governo Dilma ainda é cedo para falar o que se deve ou o que se pode, uma vez que até seus ministros acham que ela é apenas o terceiro governo do antecessor, como chegou a ser dito em terrível ato falho por uma de suas ministras, quando a chamou de “presidenta Lula”. A vida brasileira vive o fim de um ciclo cujas complexas sutilezas não cabem num artigo de jornal, ainda assim suficiente para reconhecer a hora da mudança. O que vem por aí? Ainda não sabemos. Mas é provável que logo saberemos. Se as estruturas superficiais estão se movendo é porque debaixo delas algo mais profundo já se move há algum tempo, seja por ajustes de placas tectônicas, seja por influência de astros que brilham nos céus da pátria neste instante. Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/quem-traira-primeiro-11886913#ixzz2w8Ewxzto © 1996 - 2014. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

QUEM TRAIRÁ PRIMEIRO?

Deonísio da Silva Publicado em O Globo: 16/03/14 - 0h00 O Brasil dá sinais de que vai mudar. Um ciclo ameaça completar-se. Tornando-nos ou não hexacampeões mundiais de futebol, reelegendo ou não a presidente Dilma, mudaremos! Raramente mudamos sem traições. Joaquim Silvério dos Reis traiu Tiradentes, mártir de nossa Independência política, enforcado e esquartejado por ordem da rainha Maria I, avó de Dom Pedro I. Este, ao proclamar a Independência, traiu a memória da avó e também a Coroa portuguesa, à qual servia. Dom Pedro II, seu filho, foi traído pelo marechal Deodoro, que, apesar de monarquista, proclamou a República! Assim, talvez fosse produtivo olharmos, de esguelha que seja, para o tema da traição, que tem Judas Iscariotes por emblema, ainda que haja uma releitura dos eventos da história da salvação para dizer que Judas não traiu, foi traído. E que entregou Jesus, seu aliado e amigo, ao sinédrio judaico, com a esperança de que ele enfim liderasse uma revolta contra Roma. Desesperado, o traidor se suicida, numa das versões bíblicas. Em duas outras, cai, parte-se-lhe a barriga e o chão fica cheio de sangue. Para entender personalidades referenciais da vida brasileira atual, sem os condenar nem os absolver, que isso quando muito é tarefa do Judiciário ou da História, precisamos atentar para alguns sinais. Como se comportaram certas personalidades e o que disseram depois que a esquerda chegou ao poder com Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, continuando com Lula e Dilma? Nas palavras insuspeitas de Darcy Ribeiro, era um luxo termos um presidente como Fernando Henrique Cardoso. Mas FH, tendo derrotado Lula em duas eleições presidenciais, tornou-se um verdadeiro homem sem qualidades para muitos de seus ex-colegas de esquerda. Quando o convidaram para fundar o Partido dos Trabalhadores, por exemplo, ele já não era o que era? Seus dois governos foram considerados por essas figuras das quais tudo se perdoa apenas um interstício doloroso a suportar até que o boia-fria Sassá Mutema fosse entronizado como “O salvador da pátria”. O grande Dias Gomes sabia das coisas e naquela telenovela não foi a única vez em que ele foi profeta. Do governo Dilma ainda é cedo para falar o que se deve ou o que se pode, uma vez que até seus ministros acham que ela é apenas o terceiro governo do antecessor, como chegou a ser dito em terrível ato falho por uma de suas ministras, quando a chamou de “presidenta Lula”. A vida brasileira vive o fim de um ciclo cujas complexas sutilezas não cabem num artigo de jornal, ainda assim suficiente para reconhecer a hora da mudança. O que vem por aí? Ainda não sabemos. Mas é provável que logo saberemos. Se as estruturas superficiais estão se movendo é porque debaixo delas algo mais profundo já se move há algum tempo, seja por ajustes de placas tectônicas, seja por influência de astros que brilham nos céus da pátria neste instante. Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/quem-traira-primeiro-11886913#ixzz2w8Ewxzto © 1996 - 2014. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

sábado, 15 de março de 2014

HOMEM: MODO DE USAR.

HOMEM: MODO DE USAR. RECEBI DA INTERNET, ARRUMEI E REPASSO. 01. Orgasmo: ele não consegue fingir. Todos os seus orgasmos são verdadeiros. 02. Ana Maria Braga e L. Huck estão entre as pessoas que ele não sabe quem são. 03. Ele não espera que notem que ele cortou o cabelo. 04. Se ele está quieto, não é porque está de mal com quem está perto dele... 05. Ele se cuida!Mas JAMAIS cera quente estará perto de suas partes íntimas. 06. Cabelos brancos e rugas? Vieram com a idade. Fazer o quê?. 07. Ninguém olha o peito dele enquanto conversa. Nem a bunda quando se vira. 08. Ele não tem medo de ficar velho. Às vezes nem nota que ficou. 09. Listas politicamente incorretas como esta? Ele as lê e não se irrita. Às vezes ri! 10. Quando mulheres fazem listas esculhambando com ele, ele se diverte também. 11. Arrumar-se para sair? Toma banha e troca de roupa. Leva 7 minutos. 12. Não experimenta nenhuma roupa! Veste o que estiver mais à mão.

sexta-feira, 14 de março de 2014

HISTÓRIA DE CADA UM. VOCÊ SABE A SUA?

Como as palavras, cada um de nós tem sua história. Pergunto a cada leitor: qual é a sua? Quanto a mim, tudo começou em Siderópolis (SC), que mudou de nome. Chamou-se originalmente Nova Belluno. Os imigrantes italianos, saudosos da terra natal, davam o nome da localidade de onde tinham vindo, acrescentando o adjetivo “nova” na frente do nome. E assim sugiram Nova Trento, Nova Veneza etc. E Nova Belluno. Belluno é uma palavra de origem etrusca. Virou “Béllum” (guerra), em Latim, depois “bellúm” no Latim vulgar, e “Bellún” no dialeto Vêneto. Província e cidade têm o mesmo nome. A cidade fica a 100 km de Veneza e tem hoje 36 mil habitantes. Quando o governo Getúlio Vargas instalou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Nova Belluno, os engenheiros mudaram o nome do então distrito de Urussanga para Siderópolis, do mesmo étimo de siderurgia, o Grego “síderos”, ferro. Urussanga veio do Tupi-guarani, uma junção de muitas línguas indígenas, e quer dizer Riacho dos Pássaros.
Acontece que ao passar para o Latim, “sideris”, declinação de “sidus”, ferro, ensejou novo significado, como é fácil comprovar na expressão “espaço sideral”. Quando os meteoritos conseguem chegar à Terra e são encontrados – podemos ver isso em museus -, comprovamos que eles são feitos de ferro. Meu pai, um Correia da Silva, neto do fundador de Canela (RS), que se casara com uma Da Boit, família italiana, chegou a Siderópolis, ex-Nova Belluno, atraído pelas novas oportunidades de trabalho da CSN. Eu fui o primeiro de seus filhos a nascer ali. Fui batizado pelo padre Agenor Neves Marques (morreu em 2006), autor do livro “Catequista Ideal”. Quando Getúlio Vargas se suicidou, em 24 de agosto de 1954, nós já morávamos em Jacinto Machado, o novo nome que Volta Grande recebera para homenagear o brigadeiro Jacinto Machado Bittencourt, comandante militar que lutara na Guerra do Paraguai. Lá ficamos sabendo que padre Agenor tinha sido denunciado ao arcebispo de Florianópolis, Dom Joaquim Domingues de Oliveira (morreu em 1967), como incitador das greves e revoltas dos mineiros na terna luta capital x trabalho. A denúncia: “é elemento perigosíssimo à ordem pública, com palavra fácil e fluente, tem grandes recursos oratórios, é arrojado e de fértil fantasia”.
Dom Joaquim pediu explicações a padre Agenor, que assim respondeu: “Serei sempre revolucionário do bem, enquanto não vir o respeito dos fortes para com os fracos, a condescendência dos poderosos para com os humildes, a complacência dos ricos para com os pobres, a paz dos perseguidos contra a fúria dos perseguidores. Serei sempre revolucionário, enquanto houver na minha paróquia o ódio e a vingança, a perseguição e a calúnia, o orgulho e a prepotência!”. Foram sermões desse padre que o menino Deonísio ouviu muitas vezes no colo de seus pais. E certamente o padre e todo o contexto lhe influenciaram o destino! (fim)

quinta-feira, 13 de março de 2014

ETIMOLOGIA: ARRECADAR, ESQUENTAR, LAGARTO, MALEFÍCIO, NIRVANA, SEXTA-FEIRA

Na revista Caras, que começou a chegar ontem à bancas e aos assinantes, as complexas e fascinantes curiosidades da viagem das palavras desta semana. http://deonisio.blogspot.com.br/2014/03/etimologia-arrecadar-esquentar-lagarto.html
Arrecadar: do modo de dizer no Português arcaico o Latim vulgar recaptare, duplicando captare, pegar, recolher. Nas origens teve o sentido de guardar, proteger, prover segurança ao que é guardado, como no caso de pedras e metais preciosos. Ganhou depois o significado com o qual se consolidou, de recolher, cobrar, receber. No Brasil, deve ser o verbo mais conjugado pelos governos atuais, por arrecadar mais do que prover os serviços e bens para os quais foi feita a arrecadação, vinda de impostos, contribuições, taxas, pedágios etc. O governo sabe entretanto quanto arrecadou exatamente de quem, mas houve uma insólita forma de arrecadar depois que os mensaleiros foram presos: as multas aplicadas pelas autoridades judiciárias foram cobertas por arrecadações anônimas que, pelas altas quantias, despertaram muita desconfiança sobre a fonte desses recursos. Algumas ONGs (organizações não-governamentais), instaladas no país há mais de uma década, jamais receberam durante todo esse tempo o que os mensaleiros receberam em poucos dias. Esquentar: do Latim excalentare, tornar calentem, declinação de calens, que deu caente, depois queente e por fim quente em Português. É um verbo transitivo – “o Sol esquenta a terra”–, mas também intransitivo – “o clima da discórdia esquentou”-, e ainda pronominal – “esquentou-se com o que ouviu do desafeto”. No Português arcaico chegou a ser escrito escaentar. A advertência ou aviso “não esquenta!” tem o significado de “não pense nisso, não se preocupe”. Tem também o sentido de limpar dinheiro sujo, sendo sinônimo de lavar, como Lagarto: do Latim lacertus, lagarto, que por desvio e alteração da forma culta passou a ser pronunciado lacartus, depois lagartus e por fim lagarto, com o fim de designar o réptil escamado, da subordem dos sáurios - em Grego, lagarto, lagartixa e salamandra são conhecidos por saúra: houve deslocamento da sílaba tônica -, que habitam terras, árvores e regiões aquáticas. A parte de trás da coxa do boi também tem este nome, provavelmente pela aparência que adquire quando o animal caminha, tomando a forma assemelhada ao réptil. Assim, nos cardápios pode aparecer um prato com lagarto no nome, mas é carne de vaca. Aparece em A Turma, belo poema de Manoel de Barros (97): “Logo vimos um sapo com olhar de árvore!/ Ele queria mudar a Natureza?/ Vimos depois um lagarto de olhos garços/ beijar as pernas da Manhã!/ Ele queria mudar a Natureza?/ Mas o que nós queríamos é que a nossa/ palavra poemasse”. Malefício: do Latim maleficium, do étimo de facere, fazer, malum, mal, desgraça, designando também crime, malfeito, delito, pecado. Exemplos de malefícios: Adão e Eva comeram o fruto proibido numa sexta-feira; o dilúvio começou numa sexta-feira; Jesus morreu numa sexta-feira. Aumenta o malefício quando a sexta-feira é associada ao número teze. Eram treze à mesa da Última Ceia, e um er aio traidor (Judas); doze divindades nórdicas fizeram uma reunião, e o excluído, Loki, veio sem ser convidado e matou Balder, favorito do deus Asgard. O dia 13 de outubro de 1307 caiu numa sexta-feira, quando a Ordem dos Templários foi extinta, e muitos de seus chefes foram torturados e mortos. Numa narrativa lendária e apócrifa, diz-se que para acabar com a superstição a Marinha Britânica, já no século XIX, lançou ao mar numa sexta-feira um navio chamado Friday, comandado por um capitão chamado James Friday, que nunca mais retornou. A vassoura, meio de transporte das bruxas, e o gato preto, incluído pelo papa Inocêncio VIII (1432-1492) entre os perseguidos pela Inquisição, aumentaram os indicadores de azar para a sexta-feira, 13. Nirvana: do Sânscrito nirvana, extinção, desaparecimento. Designa o fim dos sofrimentos, que é obtido com a eliminação dos desejos. Se não deseja nada que não possa ser conseguido, não há sofrimento. Segundo diversas religiões, mas especialmente de acordo com o budismo, o desapego das coisas terrenas e das paixões conduz a esse estado da alma, denominado nirvana. É uma atitude de beatitude e de indiferença diante dos outros e de si mesmo. Sexta-feira: do Latim sexta, sexta, e feria, festa, mas que tomou também o significado de feira porque os dias de festa eram muito favoráveis ao comércio, pela reunião de todos nas grandes como nas pequenas localidades. O étimo remoto é o Latim sex, indicador de seis: sexta-feira é o sexto dia, Agosto chamava-se sextilis, pois era o sexto mês antes da homenagem recebida pelo primeiro imperador romano, Caio Júlio César Otaviano Augusto (63 a.C- 14 d.C.) No Inglês sexta-feira virou Friday, palavra do mesmo étimo de Friga, deusa equivalente a Afrodite. Banida dos cultos depois do cristianismo, Friga tornou-se bruxa e todas as sextas-feiras fazia reuniões com as colegas, reforçando a sexta-feira como dia de azar. Deonísio da Silva, da Academia Brasileira de Filologia, é escritor, Doutor em Letras pela USP, professor (aposentado) da UFSCar (SP), consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC) e colunista da Bandnews, com Ricardo Boechat e Pollyanna Bretas. Alguns de seus romances e contos estão publicados também em Portugal, Cuba, Itália, México, Alemanha, Suécia etc., e é autor de De onde vêm as palavras (17ª edição). www.lexikon.com.br

terça-feira, 11 de março de 2014

ETIMOLOGIAS DE CARNAVAL, QUARESMA, NOME E SOBRENONE

Carnaval: de origem controversa, mais provavelmente do dialeto de Milão carnelevale, fixado no Italiano carnevale, por sua vez radicado na expressão do Latim carne, vale (adeus, carne) ou carnelevamen (prazeres da carne) , designando os festejos dos dias que antecedem a entrada da Quaresma, também conhecidos como entrudo, do Latim introitu, entrada. O étimo está presente no Francês carneval, no Inglês carnival no Alemão Karneval no Alemão, no Italiano carnevale e no Espanhol carnaval. Pode ter-se mesclado com a expressão do Latim carrus navalis, carreta em forma de barco presente nas festas romanas, provavelmente trazidas dos cultos dionisíacos já em vigor na antiga Grécia entre os séculos VII e VI a.C., celebrando boas colheitas, vitórias e outras celebrações marcadas por alto consumo de vinho e excessos libidinosos da sensualidade. Afinal Dyoniso, para os gregos, e Baco, para os romanos, eram deuses do vinho e da sensualidade. Em 2014, o Carnaval em verdade vai começar na sexta-feira, dia 28 de fevereiro, estender-se até 5 de março, quarta-feira de cinzas.
Nome: do Latim nomen, palavra que designa pessoa, animal, coisa, divindade, oceanos, mares, rios, lagoas, montanhas etc. Entre os lugares, o primeiro a receber um nome foi o Monte Pascoal, na Bahia, assim chamado por ter sido avistado na Páscoa de 1500. No caso do nosso nome, é a primeira coisa que não escolhemos, depois dos pais e do lugar onde nascemos, e o carregaremos pela vida afora, mantendo-o depois da morte na identificação dos jazigos e na memória alheia. No Brasil, durante muitos séculos a certidão de batismo na igreja católica substituiu o registro civil. Onomástica: do feminino substantivado do adjetivo do Grego onomastikós, arte de dar nomes. Entre nós, o nome feminino mais comum é Maria. Há cerca de 14 milhões de Marias e 8 milhões de Josés no Brasil, vindos respectivamente do Hebraico Míriam e Yôseph. Míriam, originalmente surgido no Egito, tem o significado de amada de Amón, o principal deus egípcio. Yôseph quer dizer Yavé acrescenta. Em pesquisa feita pela Pro Score em CPFs, José, Antônio, João, Francisco e Luís são os cinco nomes masculinos mais frequentes. Maria, Ana, Francisca, Antônia e Márcia os cinco femininos. Edson e Éder, por causa de Pelé (73) e de Éder Jofre (77), assim como Ester, em razão de Maria Ester Bueno (74) foram muito comuns quando esses esportistas apareciam muito no rádio e nos jornais. Às vezes um nome entra na moda, mas depois não aparece mais nos registros, como foi o caso de Maíra, provavelmente nome feminino de índias das tribos kaapo ou urubu, personagem e título de livro de Darcy Ribeiro (1922-1997). Embora exista no Árabe também, Maíra veio provavelmente de nome de índios kaapo e urubu, entre os quais o antropólogo viveu vários anos. Quaresma: do Latim quadragesima, subentendo da expressão quadradagesimam diem antes da Páscoa, que virou quaresima no Latim vulgar. A contagem é controversa. Para que tenha 40 dias, no ano de 2014, o período se completa entre 5 de março, quarta-feiras de cinzas, e 13 de abril, domingo. No rito ambrosiano, começa no domingo seguinte à quarta-feira de cinzas e termina no Sábado de Aleluia. Por esta contagem, este ano a quaresma terá 34 dias. Os números nem sempre batem porque a Páscoa e a Quaresma são medidas pelo calendário lunar. Sobrenome: do Latim super, sobre, e nomen, nome, designando em geral nome de família acrescentado ao prenome. Na tradição luso-brasileira, são usuais dois sobrenomes: o da mãe e o do pai. Os espanhóis driblaram o limite de dois sobrenomes juntando dois maternos e dois paternos, cada par com um hífen. Predominam seis motivos nos sobrenomes: São seis os principais motivos de nossos sobrenomes: 1) o lugar onde viviam nossos ancestrais: quem morava em cidades perto de matas era Silva; e eram Campos, se ali viviam; no litoral, eram Costa; 2) honras recebidas: Valente, Nobre e Bandeira remetem a comportamentos, principalmente em batalhas; 3) Aparência ou ligação com bichos: Barata, Cão, Coelho, Peixoto (peixinho), Lobato (lobinho); 4) Religião: o santo do dia é seu nome; 5) Profissão: os Penteado usavam ou fabricavam perucas, costume copiado de franceses e ingleses; 6)mesmo nome de familiares: Neto, Filho ou Júnior, Sobrinho, Genro. Também o Inglês Wood, bosque, e o Alemão Berg, montanha, estão presentes em muitos sobrenomes, e igualmente profissões como Schumacher e Schneider, sapateiro e alfaiate, em Alemão, respectivamente, são exemplos disso. Zelote: do Grego zelotes, de zêlos, ciúme, ardor, ciúme, designando integrante de movimento político deflagrado na Palestina ao tempo em que Jesus (entre 8 e 4 a.C.- entre 25 e 29), havendo indícios em alguns dos 315 evangelhos apócrifos de que havia zelotes entre seus apóstolos, discípulos e seguidores. Zelotas ou não, todos os que se proclamavam messias eram executados, quase sempre por crucificação, mas no século I é identificado como “Tiago, irmão de Jesus, o que eles chamam messias” um judeu apedrejado pelos romanos. Há poucos anos, arqueólogos acharam sua urna funerária nos arredores de Jerusalém. Outros, que tiveram mortes semelhantes à de Jesus foram Teudas, Atronges, Ezequias, Judas Galileu e seu neto Menahem, Simão, filho de Giora, e Simão, filho de Kochba, e O Samaritano. Em comum, todos se proclamaram reis ou messias.

sexta-feira, 7 de março de 2014

EU CONVERSO COM MORTOS. E VOCÊ?

A versão impressa sai domingo no Primeira Página.
Eu converso com mortos. Você também? Ou dá exclusividade aos vivos? Conte-nos sua experiência. Ainda mais agora que todo mundo é escritor, assim como todo mundo é pintor, artista etc. Quem pode ser chamado escritor ou artista? Os sinais estão sendo confundidos. Em Letras, é mais fácil identificar os impostores, mas em arte, não! Dou um exemplo. Em Bari, na Itália, em fevereiro deste ano, o artista americano Paul Branca espalhou pelo chão pedaços de jornais misturados com restos de biscoito. A exposição abriria no dia seguinte e aquela era a sua instalação. A faxineira veio fazer a limpeza e jogou tudo no lixo. O “artista” recebeu o seguro, que era de US$ 15 mil. Os mortos falam várias línguas. Este, com quem eu proseava, conversava em latim. Tinha vivido no séc. I a.C. Para quem não sabe, os séculos antes de Cristo são contados de trás para a frente. Assim, o Livro dos Mortos, escrito no séc. XV a. C., no Egito, precedeu em catorze séculos o morto com o qual eu conversava. Pois esse morto usou em Latim as palavras “jugera” e “cullea”. Notem que escrevi “esse morto”, se fosse “este” seria eu, mas eu estou vivo, então é “esse”. Escrever bem em Português é difícil. (Paulo Coelho, por exemplo, erra muito os pronomes demonstrativos). Falávamos da Itália, onde ele vivera quando vivo. Fica estranho dizer isso, mas sabemos que muitos mortos gostam de viver entre nós. Lembram-se do filme "O Sexto Sentido"? O menino diz “eu vejo pessoas mortas”. Pois eu converso com elas sem as ver, a não ser por fotografias, pinturas, daguerreótipos, estátuas, bustos etc. Na verdade, era quase só ele quem falava. Eu apenas ouvia. Como nesta crônica. Você está me lendo quieto, você não fica escrevendo no meio das minhas frases. Na fala não é assim. Tome-se o exemplo de um bom professor. Como é bom ouvi-lo apenas! Mas sempre há alunos-repolhos para interrompê-lo com perguntas desnecessárias. Esse morto – esse, hein! – não este! – me dizia que no seu tempo a Itália era coberta de tantas “arbores” (árvores) que mais parecia um “pomarium” (pomar). E que uma “jugera” (jeira, mais ou menos 0, 2 hectare) produzia dez “cullea” (cúleos) de “vinum” (vinho). Eu dormi enquanto ele falava, tática que os mortos adotam para descansar de nosso convívio ou trazer-nos um pouco para o mundo deles. Acordei e fui procurar nos dicionários o significado de cúleo. O Aurélio, o Michaelis e o Houaiss não têm cúleo, mas o Aulete, cujo organizador é meu amigo Paulo Geyger, tem. E se não tivesse, eu mesmo, que prefaciei o dicionário, iria reclamar. Cúleo era um saco de couro para guardar vinho. Cabiam nele 20 ânforas, equivalentes a 91 litros. Muito vinho, hein! Nos crimes de parricídio (quando o filho mata o pai), o cúleo era costurado com o assassino ali dentro e jogado ao mar. O nome do morto é Marco Terêncio Varrão. Morreu em 27 a.C., aos 88 anos. º escritor, colunista da Bandnews, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC). Autor de 34 livros, entre os quais De onde vêm as palavras (17ª edição). www.lexikon.com.br

terça-feira, 4 de março de 2014

ADRIANA LUNARDI, A NOSSA TCHEKHOVA

"Selfie", conto inédito da escritora catarinense Adriana Lunardi. Hoje, 4/3/14, em O Globo, p. 9. Lançada pela Editora Mercado Aberto, de Roque Jacoby, em 1996, prosseguiu pela Rocco, com contos e romances, entre os quais "As Meninas da Torre Helsinque" e "A Vendedora de Fósforos". É a nossa Tchekhova. Tudo o que põe nas narrativas, usa!

MISTÉRIOS DE SANTA CATARINA

Thomas John Cardell Martyn (1896-1979), quem em 1933 fundou a prestigiosa americana Newsweek, casou com a catarinense Mary Irmagard Martyn (1920-1973), por quem se apaixonara durante um tratamento num hospital em São Paulo, foi viver com ela em SC e está enterrado em Agrolândia, perto de Itajaí.

domingo, 2 de março de 2014

UM ÓSCAR E DOIS OSCAR

A estatueta do óscar (em Português tem acento) foi criada em 1927 por Cedric Gibbons, diretor de artes da Metro-Goldwyn-Mayer. Mede 33 cm, pesa 3,85kg, é feita de cobre, níquel, prata e ouro de 24 quilates. O rolo de filme representa os 5 ramos que homenageia: atores, diretores, produtores, técnicos e roteiristas. Para manter a qualidade, a fabricação continua sendo artesanal. O primeiro óscar foi entregue em 16 de maio de 1929, no Hotel Roosevelt, em Hollywood, Los Angeles. A cerimônia de entrega só começou a ser transmitida pela TV em 1953. E só para os EUA e para o Canadá. Hoje é vista por mais de um bilhão de telespectadores em 200 países. O óscar passou a ter este nome em 1931, quando uma secretária da Academia de Artes disse que a estatueta lembrava seu tio, Oscar Pierce, agricultor e fazendeiro.
A seleção brasileira teve um grande zagueiro chamado Oscar, nas décadas de 80 e 90. E atualmente seu camisa 10 se chama Oscar também. Foi do Internacional para o Chelsea.

sábado, 1 de março de 2014

MORREU FUNDADOR DE UNIVERSIDADE EM SÃO CARLOS E REGIÃO

http://www.jornalpp.com.br/colunista/item/54885-vai-com-deus-braga-teu-lugar-e-no-alto VAI COM DEUS, BRAGA! TEU LUGAR É NO ALTO Deonísio da Silva º Terminei de gravar verbetes sobre o Carnaval para a Bandnews e fui ler os e-mails. Poxa! É assim que “a indesejada das gentes”, como disse o poeta Manuel Bandeira, chega. Antonio Carlos de Vilela Braga tinha morrido! O jornalista Marco Rogério Duarte foi quem me deu a notícia na manhã de sexta-feira, a pedido do Marcos Santos Nessas horas, vêm à mente as lembranças. Conheci Braga quando dona Vanderlice fazia a campanha de seu marido Melo para a prefeitura. Acho que foi em 1982. Alguém disse que ela era da Palestina. E eu disse: “Aprendeu bem o Português! Fala direitinho!” Um homem sem braço riu, simpático, e se aproximou de mim. Fumava muito. Com o cigarro na boca, apertou meu braço e disse. “Não é essa Palestina que você está pensando, não”. “É um município aqui pertinho”.
Melo ganhou a eleição. Deu zebra aquele ano. Dias depois, Braga e eu voltamos a nos encontrar, a convite do novo prefeito, para lhe dar ideias de como governar. Havia muita gente na sala e eu vi como intelectual entende pouco de poder. Tinham cercado o Melo umas pessoas que pensaram mais ou menos o que pensam muitos ainda, tidos por gente boa: quem pensa diferente deles, deve ser excluído de tudo! Não sei de onde vem tamanho estalinismo, mas essas pessoas ferraram muita gente e também se ferraram ou estão se ferrando ainda porque correm o risco de passar a vida nos tribunais como réus de roubalheiras. Penso que esses de que falo, de muitos partidos, não terão uma boa velhice! Braga discordava de todas essas práticas e sobre esses assuntos conversávamos muito. Mas ele passou a ir muitas vezes lá em casa para outra coisa. Queria que eu lhe ensinasse a escrever um livro. Disciplinado, escreveu um romance muito bom, eu o levei à Siciliano, o Pedro Paulo de Sena Madureira leu e gostou muito das tramas, e ia publicá-lo. Braga assinou contrato para esse livro e não o publicou, que eu saiba! Não vou avaliar a dor da morte dele para seus familiares, especialmente para dona Zuleica, sua esposa, professora de História de minha filha Manuela, que repetia, entusiasmada em casa as aulas dela. Da morte ninguém nos consola. Mas sei o que São Carlos perde. Um intelectual de sólida formação, de muitas e boas leituras, um professor e um empresário que deixou marcas indeléveis na cultura da cidade e do município. Quanto a mim, perdi um amigo muito querido, uma boa pessoa, alguém que soube transformar as grandes dificuldades que enfrentou na vida em impulsos para seguir adiante. Jamais caluniou ninguém, era do bem, fazia a conversa clara nos embates e discussões. Espero que o Senhor receba a alma desse seu filho e o recompense na vida eterna! Aqui ninguém poderá recompensá-lo à altura pelo bem que ele fez, pois trabalhar com educação é trilhar o caminho da ingratidão, mais do que o do agradecimento. Que ele possa descansar em paz! (xx) º escritor, colunista da Bandnews, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC). Autor de 34 livros, entre os quais De onde vêm as palavras (17ª edição). www.lexikon.com.br