NOME DE POBRE NO BRASIL

domingo, 30 de junho de 2013

NESTE INVERNO, O TRIUNFO DA CARTOLINA

Minha crônica deste fim de semana. Versão impressa publicada no jornal Primeira Página, São Carlos (SP).
O Globo de sexta-feira (28 de junho) trouxe matéria muito oportuna e pertinente. Assinada por Barbara Marcolini e Luiza Barros, trata da volta da cartolina no inverno deste ano. Apaixonado pela viagem que as palavras fazem per saecula saeculorum, que outros se ocupem das manifestações de rua e da irrupção dos protestos que de repente tomaram conta do Brasil. Quero para mim as palavras! Escrevi ainda tão poucas linhas ao abrir a crônica e eis que vários vocábulos me assaltam ainda no primeiro parágrafo. Vejam vocês: inverno está na língua portuguesa desde o século XIII. Era escrito originalmente com agá, letra que ainda permanece em hibernar, palavra do mesmo étimo. No Latim, de onde veio, era tempus hibernum, mas o Português fez elipse da palavra “tempus”, retirando-a, não apenas de inverno, mas das quatro estações. Veranum tempus (Verão)Prima vera (Primavera) e tempus autumnus (Outono). O Português é filho do Latim. Todo mundo intui o significado de per saecula saeculorum, sem precisar saber que saecula é plural de saeculum, e designava espaço de trinta, cem ou mil anos, tendo-se fixado em cem. Assim como sabe o que é habeas corpus, in memoriam, ave, credo, a priori, a posteriori, data venia, idem, ibidem etc. Aliás, etc é abreviação do Latim et cetera (e outros, e outras coisas) e por isso não se deve pôr “e” antes de etc. Voltemos ao tema principal, a cartolina, que triunfou nas manifestações de rua destes últimos dias. Muitos leitores poderão cavoucar na memória e haverão de lembrar que a professora levava para a sala de aula um cartaz, onde estava desenhado o tema da redação: aves, animais, árvores etc. Aquele retângulo de papel era conhecido por cartolina, palavra vinda do Italiano cartolina, adaptada do Latim chartula (ch com som de k), já diminutivo também, mas de charta, do Grego chártes, folha de papiro, igualmente do Grego pápyros, pelo Latim papyrus, arbusto trazido do Egito, de cuja entrecasca eram feitas folhas para escrever e velas para navegar! Em 1992, os caras-pintadas receberam dos partidos políticos faixas e cartazes já prontos. Três anos antes, muitos deles tinham votado no presidente que enfim derrubaram. La donna è mobile, e o leitor também! Desta vez, eles e seus filhos tomaram cartolinas, pincéis atômicos e lápis de cor, e fizeram seus próprios cartazes. Ah, sim, e botaram pra correr os partidos políticos que por lá apareceram! Os novos tempos chegaram! E ninguém ainda sabe o que eles nos vão trazer! Logo depois dos protestos, o Congresso derrubou a emenda constitucional que limitava os poderes de investigação do Ministério Público e definiu a corrupção como crime hediondo. E, por ordem do STF, está preso um deputado federal. Políticos já condenados em diversas instâncias do Judiciário, estão assustados, principalmente os mensaleiros. Antes tão arrogantes, agora estão apavorados. Já havia na praça um bom livro sobre o tema: A Estética da Multidão (Rio, Civilização Brasileira, 159 páginas, R$ 30), da professora Barbara Szaniecki. Que venham outras interpretações desses novos sinais!

sexta-feira, 28 de junho de 2013

ETIMOLOGIA DE AUTO DE FÉ, CIRCUNCISÃO, TALHARIM ETC

Auto de fé: do Latim actus, do verbo agere, fazer, e de fides, fé. Designou originalmente sinistra e cruel cerimônia da Inquisição e do Santo Ofício. Combinados, eles faziam cumprir a sentença, quase sempre condenatória, raramente de absolvição. As vítimas eram queimadas vivas em fogueira pública, nas praças. A pauta incluía a celebração de missa solene. Espanha e Portugal lideraram os tristes recordes dessas punições, realizando fogueiras em cidades como Lisboa, Évora, Madri, Toledo e Valença, entre outras. Num desses autos foi queimado em Lisboa o escritor brasileiro Antônio José da Silva, o Judeu (1705-1739). Como desejou morrer na fé católica, foi-lhe concedido o benefício de ser morto no garrote vil antes de ser queimado. Uma das testemunhas de acusação foi uma escrava negra: ela declarou que ele observava o sabá, rito judaico. Seu corpo também o denunciou: ele era circuncidado. A metros dali estava em cartaz uma peça de sua autoria. Circuncisão: do Latim circumcisione, declinação de circumcisio, ato de cortar ao redor. A mais comum é uma prática religiosa e higiênica própria de usos e costumes judaicos e muçulmanos, constituindo na retirada do prepúcio, pele que cobre a glande do pênis do menino. Jesus (século I) foi circuncidado em 1º de janeiro. A circuncisão feminina, praticada por outros povos, consiste na retirada do clitóris e dos pequenos lábios da vulva, sendo mais conhecida por clitoridotomia. O objetivo, às vezes disfarçado, é evitar que a mulher tenha gozo sexual. Nutrição: do Latim nutritione (diz-se “nutricione!”), de nutrire, nutrir, originalmente alimentar com leite, depois verbo aplicado ao ato de prover alimentos a quem come para que cresça ou se fortaleça. Na Guerra do Paraguai, pela presença de nordestinos nas tropas, os soldados inventaram esses versos: “Osório dava churrasco/ E Polidoro, farinha/ O Marquês deu-nos jabá!/ E Sua Alteza, sardinha”. As referências são o que lhes davam de comer os comandantes militares. Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias (1803-1880), marquês na época; o marechal Manuel Luís Osório (1808-1879); o general Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão (1802-1879). Sua Alteza era o Conde d’Eu (1842-1922). Parar: do Latim parare, andar, caminhar, esforçar-se para obter algo. Mudou de sentido e tem cerca de 20 acepções na língua Portuguesa, predominando a de interromper por breves ou longos períodos o que se está fazendo. O sabá, do hebraico xabbat, descanso, designa a interrupção dos trabalhos do pôr do sol da sexta-feira ao do sábado.
Sentar: de origem controversa, mas provavelmente do Latim sedentare ou do Latim vulgar adsentare, ambos os verbos designando o ato de flexionar as pernas e apoiar as nádegas no chão ou sobre pedras, paus, encostos, bancos, cadeiras. Sentar-se à mesa para as refeições foi, desde o Brasil colonial, motivo de minuciosa vigilância da Inquisição e do Santo Ofício, pois, caso a pessoa sentasse no chão, desprezando a cadeira ou o banco, a recusa era entendida como prática de judaísmo. No século XVI, a baiana Ana Roiz, por sentar-se no chão para as refeições, foi levada do Brasil e queimada viva em Lisboa, em auto de fé. Preocupados, os cristãos faziam mesas cada vez mais altas e em 1808, com a vinda da Família Real para o Brasil, foi registrado o costume de tais móveis serem tão altos que davam pelo peito quando a pessoa a elas se assentava, como registra o comerciante inglês John Luccock, entretanto tratado com verve pelo naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779- 1853): “O negociante Luccock tem espírito e descreve muito bem, mas é exagerado na malignidade. E, como é surdo, não se pode ter tanta confiança no que afirma ter ouvido como o que observou”. Talharim: do Italiano tagliarini, plural de tagliarino, do mesmo étimo de tagliare, talhar, cortar. Designa macarrão cortado em tiras, não roliças como o espaguete, do Italiano spaghetti, plural de spaghetto, de spago, do Latim spacum, barbante, porque neste caso, ao contrário do que ocorre com o talharim, a massa não se parece com tiras, mas com barbantes. O talharim é um prato muito apreciado. O imperador Napoleão (1769-1821), que preferia a cozinha italiana à da França, louvou o talharim à moda da Córsega, sua terra natal.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

ETIMOLOGIAS REMOTAS DE SARAMANDAIA E BOLE-BOLE

Dias Gomes inventou o nome Saramandaia para a cidade fictícia da novela a partir de sarabanda, dança sensual da época do Renascimento, cheia de meneios de corpo, muito lasciva. Bole-bole, com ou sem hífen, designa o movimento dos quadris, o tradicional rebolado, igualmente sensual. Bole-bole veio do verbo bulir, mexer, requebrar, dar formas arredondadas ao movimento, do Latim bullire, agitar, ferver. Já a origem remota de saramandaia, alteração de sarabanda, é o espanhol zarabanda, um tipo de baile.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O PÃO DE LÓ, O AÇÚCAR E O SAL DO SALÁRIO

Pão de ló perdeu o hífen, não o sabor. O dicionário Caldas Aulete define essa gostosa guloseima como “bolo de massa bem leve, feito de farinha, ovos, açúcar e água”. Mas por que tem este nome? Provavelmente por dois motivos, ambos de origem controversa: Lot, em hebraico, quer dizer véu. E também secreto, escondido. Foi originalmente pão e não bolo. Levando muito açúcar, atraía moscas. Era, então, coberto com um pano rendado, como hoje ainda se faz nas padarias, com o fim de protegê-lo dos insetos. Surgido nos conventos, como a maioria de doces, guloseimas e licores, o nome bíblico é de interferência complexa, mas não muito difícil de explicar. As cozinheiras e doceiras dos conventos, tornadas freiras à força às vezes, vinham de famílias católicas e ricas, que conheciam tão bem a Bíblia quanto comidas e temperos. Então, por que não se chamou “pão de Lot”? Porque em Portugal, Lot era então escrito na variante Ló, que ainda permanece. Mas quem era este Ló do pão de ló? Ele aparece pela primeira vez no livro do Gênesis, na Bíblia, no capítulo 11, depois do episódio da Torre de Babel. Logo depois do dilúvio, os descendentes de Noé resolveram construir uma torre tão alta que chegasse até ao céu. Diz a Bíblia: “Toda a terra tinha uma só língua e as mesmas palavras.” Deus, então, toma uma providência: “Desçamos e confundamos sua língua, para que não se entendam uns aos outros”. Foi por isso que o lugar, a planície de Senaar, recebeu o nome de Babel, confusão em Hebraico. “Dali Deus os dispersou por toda a terra”. Espalharam-se por lugares diversos. Ló é filho de Arão, irmão de Abrão, que a esse tempo ainda não é Abraão. Ló é portanto seu sobrinho. É na companhia deste sobrinho que ele vai para Canaã. Grassando a fome em Canaã, Abrão segue para o Egito, já casado com Sara, mulher de grande formosura. Lá pede à mulher que se declare sua irmã e não sua esposa, para que a vida dele seja poupada. Ela procede como o marido recomenda e é levada à corte do faraó, onde seus favores sexuais rendem a Abrão bois, vacas, ovelhas, jumentas, canelos e servos e servas. Sobrevêm grandes flagelos no Egito e o faraó descobre que se devem ao fato de ele ter coabitado com Sara, uma mulher casa. Por isso, manda embora Sara, Abrão, Ló e todos os outros. Já morando em Sodoma e Gomorra, um dia Ló se vê em apuros. Os habitantes cercam a casa e querem se aproveitar sexualmente de duas visitas. Ló dá suas filhas virgens para os sodomitas se divertirem, distraindo-os. Fugindo dali com a mulher, filhos, genros, noras e toda sua família enfim, ouve a recomendação de que não olhem para trás. Mas a mulher de Ló desobedece e é transformada numa estátua de sal. Bem, mas o sal, origem da palavra salário, fica para outro dia. Hoje tratamos de bolos e doces, que não têm sal, têm açúcar. O açúcar tornou-se metáfora de coisas boas, mas hoje em dia é tratado como veneno, um horror. E o sal também! Antigamente a vida era melhor ou desconhecíamos os perigos do açúcar e do sal?(xx)

ETIMOLOGIA DE LELÉ, PETA, URUBU, TORCIDA ETC

Confederação: do Latim confoederatio, associação de Estados ou entidades soberanas, autônomas em outros assuntos, mas reunidas com objetivo comum, como ocorre na Copa das Confederações. O étimo da palavra é o mesmo do verbo que, designando o ato sexual, depois se converteria em palavrão, mas o significado comum é fazer aliança. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) foi fundada em 1914 e em 1930 já chefiava a participação do Brasil na primeira Copa do Mundo, ainda com o nome de CBD, quando o craque do Fluminense João Coelho Neto, o Preguinho (1905-1979), filho do escritor maranhense Coelho Neto (1864-1934), fez o primeiro gol na história da Seleção Brasileira, na derrota do Brasil para a Iugoslávia por 2 a 1. Iugoslávia quer dizer “terra dos eslavos do Sul” e seu território, nos Bálcãs, ficava onde hoje estão Sérvia e Montenegro. Jurássico: do Francês jurassique, relativo às montanhas Jura, nos Alpes franceses, qualificando a era situada entre 195 e 136 milhões de anos, marcada pela hegemonia dos répteis em todos os ambientes e pelo surgimento dos dinossauros (na terra), pterossauros (no ar) e plesiossauros (no mar). Quem tornou popular o tema foi o cineasta norte-americano Steven Spielberg (66) no filme Jurassic Park, cujo título foi adaptado para O Parque dos Dinossauros, em Português. Lelé: do Lunfardo lele, gagá, senil, amalucado. O lunfardo é uma gíria surgida em Buenos Aires, que logo se espalhou pelos países vizinhos à Argentina. Originalmente eram chamados lunfardos, do Espanhol lunfa, ladrão, os ladrões inexperientes, porque iniciantes, conhecidos entre nós por gatunos. Mas o cantor argentino Carlos Gardel (1890-1935) não estava lelé nem tampouco o autor do tango Cambalache, Enrique Santos Discépolo Deluchi (1901-1951), quando cantou esses versos proféticos: “Hoy resulta que es lo mismo/ Ser derecho que traidor!.../ Ignorante, sábio, chorro,/ generoso o estafador!.../ Todo es igual! Nada es mejor!/ Lo mismo um burro/ Que un gran professor.” Chorro é ladrão e estafador, estelionatário. Peta: do Grego pítta, pelo Latim pitta, mancha no olho do cavalo. Designa também a parte afiada do podão, espécie de foice para podar árvores. Com o significado de mentira, logro ou burla, aparece neste trecho do livro Memorial de Aires, do escritor brasileiro Machado de Assis (1839-1908): “Vou responder isto mesmo à mana Rita, acrescentando algumas notícias que trouxe da rua — a carta do Tristão, por exemplo, os agradecimentos do barão à filha, e esta grande peta: que a viúva resolveu casar comigo... Mas não; se lhe digo isto, ela não me crê, ri, e vem cá logo.” Torcida: do feminino de torcido, particípio de torcer, do Latim torquere, designando mecha de vela ou de lamparina, feita de fios torcidos para formar o pavio, e também o enrolado de folhas de fumo do charuto. Mas predominou outro significado, o conjunto de simpatizantes de times ou clubes em competições esportivas. Em Portugal, torcedor é adepto; em Italiano é tifoso, semelhando estar contagiado por tifo, uma doença; em Espanhol é hincha. No futebol, a primeira torcida foi feminina: moças vestidas com requinte iam aos campos aplaudir o Fluminense. Fazia calor e elas suavam muito. Nervosas com alguma jogada, torciam as luvas nas mãos, enquanto vergavam o corpo, inclinando-o para lá e para cá, como para acompanhar os meneios dos jogadores. Os homens torciam com chapéus de palha chamados palhetas. Segundo o jornalista Luiz Mendes (89), quem primeiro fez o registro do vocábulo com este significado foi o escritor Coelho Neto, em uma crônica publicada num jornal de esportes do Rio de Janeiro. Urubu: do tupi uru’wu, o gari do universo. Tornou-se o símbolo do Flamengo depois que um grupo de estudantes capturou uma dessas aves num lixão do Rio, soltando-a no gramado do Maracanã, em 1º de junho de 1969, quando o time perdia para o Botafogo por 1 a 0, invicto diante do Flamengo havia quatro anos consecutivos. A partida foi interrompida por 10 minutos e o Flamengo venceu por 2 a 1.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

ETIMOLOGIA DE PÃO DE LÓ

Maria Antonieta mandou o povo comer brioche, à falta de pão. Pobrezinha, não entendeu bem o sentido daquela famosa Revolução e perdeu a cabeça. Mais de dois séculos depois, enquanto os políticos são tratados a pão de ló, o povo sofre com uma inflação que as cifras oficiais dizem ser de 6%. Ora, ora! É só ir aos supermercados para comprovar o contrário. Diversos produtos já subiram 40% ou mais. E não estamos falando de outros custos, como os dos transportes. Calcule o que você pagava de pedágio ou estacionamento ano passado e compare a quantia com a que paga hoje. O povo tem muitos motivos para estar na rua. Não é só o preço dos transportes ditos públicos. E quanto ao pão de ló, eis a origem de chamar-se assim.
Pão de ló perdeu o hífen, não o sabor. O dicionário Caldas Aulete define essa gostosa guloseima como “bolo de massa bem leve, feito de farinha, ovos, açúcar e água”. Mas por que tem este nome? Provavelmente por dois motivos, ambos de origem controversa: Lot, em hebraico, quer dizer véu, coberto, secreto, escondido. Foi originalmente pão e não bolo. Levando muito açúcar, atraía moscas. Era, então, coberto com um pano rendado, como hoje ainda fazem nas padarias, com o fim de protegê-lo dos insetos. (2 fotos)

sábado, 15 de junho de 2013

PALAVRAS QUE VIERAM E FICARAM NO PORTUGUÊS

A língua portuguesa veio do Latim. E por isso muitas palavras se assemelham a palavras de outras línguas, que também vieram do Latim, como o Espanhol, o Italiano, o Francês. Nossa língua é parecida com essas outras três. Mas há muitas palavras que vieram de línguas estranhas às neolatinas. Eis alguns exemplos colhidos aleatoriamente. No mais recente programa SEM PAPAS NA LÍNGUA, com Ricardo Boechat, na Bandnews, fizemos algumas brincadeiras, que a seguir transcrevo: Do árabe: O ALMIRANTE, depois de ter comido ESFIRRA e QUIBE no ARMAZÉM, estava lendo o ALMANAQUE no SOFÁ enquanto a HURI o esperava na ALCOVA para a ALQUIMIA do amor, mas o que se deu foi uma tragédia: com a cara cheia de ÁLCOOL, o ASSASSINO deixara a CARAVANA e se preparava para matar o casal. Do russo: o COMISSÁRIO bebeu um litro de VODCA enquanto tocava BALALAICA sonhando em matar um MAMUTE. Os árabes ficaram sete séculos na península ibérica, dominando Espanha e Portugal. Não foram os ímpios que a historiografia portuguesa dos tempos monárquicos nos faz supor. Ao contrário, cessada a guerra – e guerra é guerra, com bandidos e heróis de parte a parte – eles ali se estabeleceram levando cultura. Portugal foi denunciado como terra de homens rudes por ninguém menos do que Camões, que tanto louvou a pátria: “Dá a terra Lusitana Cipiões, Césares, Alexandres e dá Augustos;/ Mas não lhes dá, contudo, aqueles does/ Cuja falta os faz duros e robustos./ Octávio, entre as maiores opressões/ Compunha versos doutos e venustos;/ Não dirá Fúlvia, certo, que é mentira,/ Quando a deixava Antônio por Glafira.” (Glafira foi uma das amantes do grande general romano; a última foi Cleópatra).
Os turistas brasileiros em sua maioria ainda preferem ir à Disney, mas poderiam de vez em quando trocar de endereço e viajarem para a Europa, especialmente para Itália, Alemanha, Espanha e Portugal. Lá estão nossas raízes. Na Espanha, é possível ver o colosso de Alhambra. Na última vez que estive em Portugal, há dois anos, fui ao Mosteiro de Alcobaça. Ainda hoje ficamos arrepiados com aquele rei louco, Dom Pedro, o Cru, que quer dizer o Cruel. Ele mandou que os esquifes dele e de sua amada, Inês, “aquela que depois de morta foi rainha”, fossem postos um em frente ao outro, e não ao lado um do outro, para que quando soarem as trombetas do Juízo Final, os amantes se vejam imediatamente. Que cada um, o primeiro que veja, seja o outro. Sempre o grande Camões, que até nome de prato é, bife à Camões, ele que, se não morreu de fome, morreu de subnutrição, pois era seu escravo Jao quem ia para as ruas pedir esmolas e trazer comida para o poeta, que morreu de peste. É sempre ele quem retrata pessimismos, tragédias e, claro, glórias portuguesas, pois é um povo que tem muito do que se orgulhar. Mas recebemos palavras do persa também. No QUIOSQUE, perto do BAZAR, você pode comprar TALCO e TIARA. Do ASTECA: TOMATE, CHOCOLATE. Do húngaro: havia PÁPRICA, GULACHE. Do sueco: o OMBUDSMAN, TUNGSTÊNIO. Do sânscrito: o GURU ensinou um MANTRA para ajudar a pessoa a aceitar o seu CARMA. Do esquimó: o ESQUIMÓ encheu de carne crua o CAIAQUE e levou toda a carga para o IGLU. Devemos muito de nossas riquezas linguísticas a muitos povos. Às vezes fomos buscar palavras lá, outras vezes quem nos trouxe foram eles! (FIM).

quinta-feira, 13 de junho de 2013

DIA DOS NAMORADOS FOI ONTEM

"Há o amor, naturalmente. E há a vida, sua inimiga". Frases de Jean Anouilh, escritor francês, autor de Viajante sem bagagem, O baile dos ladrões etc. Quando eu morava em São Carlos, achava divertido contemplar os casais românticos nos jantares à luz de velas, pois se aparência e essência fossem a mesma coisa, não haveria ciência nem escreveríamos nada, acho. Naquele dia a venda de algemas, chicotes e outros fetiches tinha seu ponto mais alto. Publiquei crônica sobre o tema no antigo site do Terra e no Primeira Página. Mas eu a perdi! Se a encontrar, posto-a aqui.

terça-feira, 11 de junho de 2013

URUBU, MASCOTE DO FLAMENGO

T O urubu tornou-se mascote do Flamengo depois que um grupo de estudantes capturou uma dessas aves num lixão do Rio, soltando-a no gramado do Maracanã, no dia primeiro de Junho de 1969, quando o time perdia para o Botafogo por 1 x 0, invicto diante do Flamengo há quatro anos consecutivos. A partida foi interrompida por dez minutos e o Flamengo venceu por 2 x 1.

A VIAGEM DA PALAVRA "TORCIDA"

Ontem, na Bandnews, às 20h20, expliquei a Pollyanna Bretas, que em Portugal, torcedor é adepto; Na Itália é tifoso, semelhando estar contagiado por tifo, uma doença; na Espanha é hincha. No Brasil, a primeira torcida foi feminina: moças vestidas com requinte iam aos campos de futebol aplaudir o Fluminense. Fazia calor e elas suavam muito. Nervosas com alguma jogada, torciam as luvas nas mãos, enquanto vergavam o corpo, inclinando-o para lá e para cá, como para acompanhar os meneios dos jogadores. Os homens torciam chapéus de palha chamados palhetas, igualmente elegantes. Segundo o jornalista e radialista esportivo Luiz Mendes, quem primeiro fez o registro do vocábulo com este significado foi o escritor Coelho Neto, pai do jogador Preguinho, autor do primeiro gol pela seleção numa Copa, a de 1930, em crônica publicada num jornal de esportes do Rio. Luiz Mendes fez aniversário anteontem.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A FOME E O SEXO GOVERNAM O MUNDO

Se você tivesse que escolher, primeiro mataria a fome por comida ou daria preferência a matar a fome por sexo? Desculpe a conversa clara em assunto tão delicado, mas você não tem escolha. Ou melhor, só pode escolher matar a fome por um prato, não a fome de alguns momentos de sexo, com ou sem amor. O sexo pode ser adiado, sublimado, evitado, compensado por outras ocupações. E há gente adulta, sobretudo mulheres, que garante não fazer sexo há muito tempo. Muito tempo, mesmo. Isto é, não apenas semanas ou meses, mas anos ou décadas. Não sabemos de ninguém que tenha ficado sem comer tanto tempo. A satisfação da fome é inadiável. Transferir as refeições por algumas horas já pode resultar em grandes problemas. Alguém pode morrer de fome, mas pode viver sem sexo! O homem começou a comer raízes, frutas e folhas, mas depois, imitando aves de rapina e feras, acrescentou carne crua à dieta. Descoberto o fogo, a carne veio a ser chamuscada, depois assada, depois cozida, depois apenas posta ao sol ou salgada, virando carne-seca ou charque. O homem foi diversificando a dieta. O leite vindo do peito da mãe na infância profunda, logo foi substituído ou complementado por leite de vacas, jumentas, camelas, cabras, éguas, búfalas, renas. O poeta grego Hesíodo, vivendo no século VIII a.C., tece vários elogios ao leite de cabra, manifestando ser este o seu preferido, o mesmo fazendo Virgílio, o grande poeta de Roma, quase oito séculos depois. Passados os tempos de verdes, carne, leite, ovos, queijos e outros derivados, veio o pão. As padarias deixaram de ser particulares e se tornaram públicas por volta do ano 150 a.C., pois o povo já se contentava com pão e circo naquele tempo. Jesus, para melhor se fazer entender, disse que era o pão da vida. Um pouco antes, na aurora da Humanidade, Deus pragueja contra o primeiro homem: “Ganharás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra, de onde foste tirado”. Já em Portugal o arroz doce era sobremesa e, tão popular, recebeu o apelido de arroz de festa, pois era item indispensável nas celebrações e festejos, religiosos, cívicos ou simplesmente populares. Tanto que nasceu a expressão "arroz de festa" para designar a pessoa que está sempre presente em qualquer evento. Pratos e doces receberam nomes curiosos na língua portuguesa. Umbigo de freira e barriga de freira designaram doces feitos com a gema do ovo, pois a clara era utilizada para engomar o hábito e outras roupas. Expressões curiosas atestam a presença da comida na língua portuguesa. Fulano tem olho grande, o olho é maior do que a barriga, come um boi por uma perna etc. O título desta crônica não é frase minha, é do escritor alemão Friedrich von Schiller, grande amigo de Goethe. É dele a letra do Hino da Comunidade Europeia, cuja música é de Beethoven. Schiller passou a vida inteira indeciso entre o amor de duas mulheres. Parece que amou verdadeiramente as duas. E sempre teve o que comer. (xx) º Escritor e Professor, Doutor em Letras pela USP. Da Universidade Estácio de Sá e da Academia Brasileira de Filologia

MERCADO DE LIVROS NO BRASIL: entrevista de Elmer Barbosa

Entrevista de Elmer Barbosa à TV Estácio Universidade. O ex-diretor do Departamento Nacional do Livro explica o mercado de livros no Brasil. http://www.youtube.com/watch?v=F0QwP9htdUI

quinta-feira, 6 de junho de 2013

sábado, 1 de junho de 2013

DEONÍSIO, NO SESC DE SÃO CARLOS, DIA 4 DE JUNHO, ÀS 20H

Para quem tiver interesse, vamos repetir a dose no Sesc, no dia 4 de junho. Levarei melhores amostras dos programas que faço com Ricardo Boechat e Pollyana Bretas & equipes na Bandnews. Só prometo que chato não será, e que tudo será novidade. Selecionei deliciosas histórias de palavras, de nomes de pessoas, de localidades, provérbios etc. Um tira-gosto está na crônica de hoje: explico que Pilatos não mandou escrever INRI, mandou escrever a frase inteira. E assim foi feito. Em três línguas: hebraico, grego, latim. OUTRAS VIAGENS, DE OUTRAS PALAVRAS SESC São Carlos Dia(s) 04/06 Terça, 20h. O escritor e professor Deonísio Silva, autor de inúmeras obras entre contos, romances e ensaios, publicadas em Portugal, Cuba e Itália, conta neste encontro a “viagem” que as palavras fazem, do berço até os dias de hoje. Um bate-papo regado à história e curiosidades que envolvem a criação das palavras. Local: Convivência.