NOME DE POBRE NO BRASIL

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

CURIOSIDADES ETIMOLÓGICAS: LARÁPIO, ERRO CRASSO, BOICOTE ETC.

Tira-gosto de DE ONDE VÊM AS PALAVRAS (Editora Lexikon, com apoio editorial da Unisul e da Oficina das Palavras). 1. L.A.R.APIUS, por exemplo, era como assinava um juiz ladrão as sentenças que vendia na Antiga Roma. 2. Foi al-Kharizm o matemático que inventou os algarismos. 3.E al-Faráb o persa que guardava antigos manuscritos. 4. O general Crasso cometeu o primeiro erro crasso. 5.Charles Boycott inventou o boicote. 6. O alemão Ferdinand von Zeppelin deixou seu nome no zepelim. 7. Um militar chamado Filipe ensejou a palavra filipeta. 8. Tripalium designava instrumento de tortura, de três paus. 9. Alumnus, aluno, e alere, alimentar, são palavras do mesmo étimo. 10. Salário veio de salarium, pagamento feito em sal. 11. Alvará veio do árabe al-baraat, e quer dizer quitação. 12. Tragédia procede de trágos, bode, em grego, porque nos rituais a deuses pagãos sacrificavam-se bodes. 13. Você embarca em navios, ônibus, trens, metrôs, aviões, carros, mas a barca do étimo permaneceu. 14. O grego haîma, sangue, aparece em hemorragia, hematoma, hemácia, mas você faz exame de sangue! O português é a última flor do latim. Mas nas encruzilhadas de ínvios caminhos recebeu afluência e influência de muitas outras línguas. E várias palavras mudaram de significado. Neste best-seller, De onde vêm as palavras, agora em 17ª edição, revista, atualizada e com acréscimos, os leitores vão encontrar antigos verbetes em nova redação e centenas de novos verbetes, que elucidarão as indagações do leitor mais perscrutador. Autor: Deonísio da Silva ISBN: 97883000044 Gênero: Linguística Páginas: 504 Formato: 20,5 x 27,5 cm Preço: R$ 90,00

domingo, 22 de dezembro de 2013

A MAGIA DO NÚMERO TRÊS

ttp://www.jornalpp.com.br/regiao-mobile/item/49878-muito-a-comemorar-em-2013-vesperas-de-2014 Muito a comemorar em 2013, vésperas de 2014 Escrito por (*) Deonísio da Silva Add new comment O ano que ora finda tem o número três no final. A soma dos algarismos ali presentes dá seis. O ano que vai começar tem o número quatro no final. E a soma dá sete. Logo virão sofisticadas conclusões e previsões tendo por base a magia do sete. Os mais antigos registros dão conta de que a Humanidade sempre teve a preocupação de designar e quantificar o mundo em que vive. E sempre deu um ar mágico às contas, como fazem os governos nos orçamentos, talvez inspirados pela matemática, que fala em quadrado mágico, e, quem sabe, também em Roberto Carlos e em Chico Buarque, algozes dos biógrafos. Roberto garante que “dois e dois são cinco”. Chico assegura que “ele era mil/ tu és nenhum”. Voltemos, porém, ao três, que está na Santíssima Trindade, em terra, mar e ar, nos três lados do triângulo e, por falar nisso, em diversas relações amorosas refletidas na novela das oito, que é apresentada depois das nove, aliás, um múltiplo de três. O número três, repleto de símbolos e magias, foi um avanço considerável na arte de contar. Até o surgimento do três, a Humanidade só expressava o singular, o par e o plural, sem esmiuçá-los. E também não abstraía nada, ainda quando os conjuntos tivessem mais do que o par. Assim, as quatro patas de um animal, os cinco dedos da mão, os dez dedos que as duas formam, os vinte dedos do corpo humano, contados no total, todos esses conjuntos só valiam para o que designavam: as patas e os dedos. O conceito não migrava dali para designar dez pássaros, vinte peixes, cinco porcos-do-mato etc. Três veio do latim tres, de uma raiz indo-europea que forneceu o mesmo étimo para numerosas outras línguas, de que são exemplos tres, em espanhol; tre, em Italiano; trois, em Francês; three, em Inglês; drei, em Alemão. A etimologia do três esclarece complexas sutilezas desses números em todas as línguas e ajuda-nos a entender o conceito que está na base dessa evolução, que começou com o um, o par e o plural, e, a partir do três, chegou ao googol, nome que o matemático Edward Kasner deu, em 1938, ao maior número que ele inventou, acolhendo sugestão de seu sobrinho Milton Sirotta, então um menino de oito anos. O pessoal do Google, o mais conhecido sistema de buscas na web, inspirou-se nesse número para criar a empresa. Mas o número três vai mais além e está no Francês très, designando intensidade máxima: très riche, para o ricaço; très mauvais, para o muito mau. Ligada ao três está também a raiz latina trans, muito presente em palavras do Português: trânsito, transação, transexual, transgredir, transgênico, transmissor, tresler etc. O Francês troupeau (tropa, rebanho) também tem a mesma raiz etimológica do três, como é também o caso do Italiano troppo (excessivo). Todavia o próximo ano é o do dois, do zero, do um e do quatro, que somados aos outros ali presentes dá sete, revestindo de magia o novo ano. (*) Escritor, colunista da Bandnews, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC). Autor de 34 livros, entre os quais De onde vêm as palavras (17ª edição). www.lexikon.com.br

DE RICARDÃO A PATRICINHA: NOMES PRÓPRIOS QUE VIRARAM COMUNS

1) Ricardão designando amante ou caso eventual, P.A. etc: o caso zero foi em Guarujá, nos anos 80, no litoral paulista. Um rapaz de porte atlético "atendia" mulheres desacompanhadas, em férias na praia, enquanto os maridos diziam que tinham trabalho em São Paulo e, na verdade, estavam namorando outras (me geral secretárias, estagiárias etc.), aproveitando a súbita e periódica solteirice. 2) Patricinha: O caso zero foi de Patrícia, filha de uma socialaite carioca. A menina era carinhosamente chamada Patricinha, era rica e se vestia bem. Seu namorado chamava-se Maurício, que virou... 3) Mauricinho, por ter hábitos semelhantes aos dela no vestir-se bem. 4) João-ninguém designando pobretão. Desde os primeiros séculos por João ser um dos nomes mais comuns, como era também o caso de José, e haver muitos pobres chamados João, que não tinham posto algum, nem emprego nem renda, não eram "alguém", então eram João-ninguém; 5) Maria gasolina designando menina interessada em quem tivesse carro, depois em quem tivesse carros bonitos, depois isso passou porque todos têm carro, até gente muito pobre, pois nos últimos anos, com a estabilização da economia e controle da inflação, o crédito aumentou e houve distribuição de renda e financiamento de veículos em até 84 meses! 6) maria-fumaça designou as primeiras locomotivas, surgidas no Brasil no século XIX. A primeira delas ia do Rio a Petrópolis e foi obra do Barão de Mauá. 7) Maria vai com a outras designando mulher sem personalidade, sem vontade própria. O caso zero é o da rainha Maria I, a Louca. Depois de mandar esquartejar Tiradentes, a cada dia pior, para sair de casa era levada por criadas, todas chamadas também Maria. Então, a soberana Maria só saía de casa com outras Marias, era uma Maria que ia com as outras (Marias). Mais dessas histórias, para mim apaixonantes, nas colunas semanais de etimologia na da Caras e nas minhas crônicas na BandNews Fluminense, com Ricardo Boechat, às 10h todas as 5as. feiras, e com Pollyanna Bretas, às 2as e 4as., às 20h25.

domingo, 8 de dezembro de 2013

QUAL FOI A PRIMEIRA LÍNGUA DA HUMANIDADE?

A primeira língua que os homens falaram, segundo intelectuais outrora muito respeitados, surgiu na famosa semana de outubro do ano de 3.761 a.C., quando o Criador fizera o mundo em seis dias, contados de domingo a sexta-feira. No sábado, antes de descansar, Ele dera uma língua a Adão e Eva. E esta tinha sido o hebraico. A Bíblia diz que toda a Humanidade falava uma só língua até o episódio da Torre de Babel, construída onde hoje é o Iraque, a 80 km de Bagdá. Babel quer dizer confusão em hebraico. Sumérios, assírios e babilônicos chamavam zigurate a esse monumento, e o designaram por Marduk e Etemenanki. A arqueologia atesta que foi construído por Hamurabi, o do primeiro código de Direito, e reforçado por Nabucodonossor.
O português Pedro Rattes Henequim escreveu em a Divina Linguagem que Deus criara o mundo em Português. Disse também que o Paraíso ficava no Brasil e que os primeiros navegantes viram os rastros de Adão e Eva na praia, que estavam na areia desde o dia em que dali foram expulsos pelas forças comandadas pelo Arcanjo São Miguel. Só faltou encontrar o couro da enorme Serpente com a qual Satanás se disfarçou para tentar o casal, pois de tempos em tempos as cobras trocam a pele. Miguel já expulsara o ex-anjo Lúcifer (Heilel, em hebraico), que se juntara a Lilith, a primeira mulher de Adão, numa coligação contra Deus. Os nomes dos anjos terminam em “el”. A partícula indica que eles estão junto a “El”, o étimo de Deus, conhecido pelo famoso tetragrama YHVH, que se pronuncia Jeová, mas que com essas letras hoje ia parecer nome de vírus.
A partícula “el” está presente também em Eloi, Eloim e Eloá, e em nomes próprios como Manuel, com suas variantes Manoel, Emmanuel, e os femininos Manuela e Emanuele. Está também na arrogante saudação que os reis católicos exigiram para si mesmos, El Rey. Esclareço que São Miguel, São Rafael e São Gabriel não são anjos soldados rasos, são arcanjos, isto é, comandantes. Rafael matou os primogênitos egípcios. E Gabriel levou a mensagem – anjo quer dizer mensageiro em grego - a Maria, anunciando que ela estava grávida do Menino Jesus. O faraó egípcio Samético I, que reinou no século VI a.C., ordenou a um pastor que criasse isolados dois bebês recém-nascidos e anotasse as primeiras palavras que dessas crianças. Ambos pronunciaram Becos, pão em língua frígia. Desde tempos imemoriais, todas as crianças do mundo pronunciam como primeira palavra algo que começa com “m”, de mãe e de mamar, som do início de palavras equivalentes em centenas de línguas, Em 1783, sir William Jones foi viver em Calcutá, na Índia, para trabalhar como juiz do Tribunal Superior da Companhia Britânica das Índias Orientais. Culto, notou que o sânscrito era muito parecido com o latim e com o grego. Hoje sabemos, graças a suas pesquisas, que houve uma raiz comum para todas as línguas indo-europeias, um universo expressivo nas mais de 6.000 línguas ainda existentes no mundo. Mas a primeira língua da Humanidade ainda é um mistério. º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

terça-feira, 26 de novembro de 2013

CARPACCIO, MARTÍNI, PIZZARIA: DE ONDE VÊM?

Carpaccio: conquanto ainda não tenha sido aportuguesado, carpaccio está na culinária brasileira há longo tempo, vindo do nome do italiano Vittore Carpaccio (1460-1526), pintor nascido em Veneza, em homenagem ao qual o prato foi criado. Designa carne ou peixe servidos crus em fatias finas, temperadas com azeite de oliva, limão etc., às vezes polvilhadas de queijo ralado. Quem o criou não foi um cozinheiro, mas Giuseppe Cipriani, barman italiano no Harry’s Bar, em Veneza. O local é referido com frequência pelo escritor norte-americano Ernest Heminguay (1899-1961), no romance Do Outro Lado do Rio, entre as Árvores. Quando as pessoas diziam que ele havia promovido seu bar, Cipriani replicava: “Não, fui eu e o meu bar que promovemos Hemingway. Ele recebeu o Prêmio Nobel depois, não antes”. Desconhecido: de desconhecer e este de conhecer, do Latim cognoscere, em que a partícula inicial “cog” está agregada ao étimo noscere, ainda mais claro se exemplificado com ignorare, em que está presente o mesmo étimo, sendo “ig” o elemento de negação. Ignorare, ignorar, é, portanto, desconhecer. Ignorante e ignaro têm o mesmo étimo. A fala popular intuiu que indivíduos “sem noção”, do Latim notione, declinação de notio, são ignorantes e ignaros. Se sobre eles pesam restrições, isso não ocorre com o “desconhecido”, que frequentemente é temido ou admirado. No dia 28 de novembro, lembramos o soldado desconhecido, reunindo para memória, num indivíduo, todos os que morreram em combate sem que nem pudessem ser identificados. É também o Dia Nacional de Ação de Graças. Martíni: de origem controversa, provavelmente do Italiano Martini, sobrenome de Alessandro, importador de vermute para os Estados Unidos, ou de um barman chamado Joe Martini, que o teria criado no bar de um hotel em Nova York, a pedido de John Davidson Rockfeller (1906-1978). Famosas personalidades registraram louvores ao aperitivo, segundo nos informa o chef de cozinha e apresentador inglês James Winter no livro Quem Colocou o Filé no Wellington?. Hemingway ironizou tantas receitas. Disse que, se alguém se perdesse na selva africana, era só sentar-se sobre uma pedra e preparar o aperitivo: “Garanto que em menos de 5 minutos vai aparecer alguém dizendo que a dosagem de gim e vermute está errada”. Pizzaria: de pizza, que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa não registra. Mas registra onde o prato é vendido e consumido, a pizzaria, denominação influenciada também pelo Italiano pizzeria. Os próprios italianos reconhecem que a palavra pizza tem origem no Germânico e chegou ao Italiano pelo Longobardo bizzo, mordida, bocado, semelhante a focaccia, fogaça, pão assado em brasas, sob cinza. Foi o pizzaoilo Raffaele Esposito quem criou a pizza margherita, em homenagem à rainha italiana Margarida Maria Teresa Joana de Saboia (1851-1926), quando esta visitava Nápoles, sua terra natal, em companhia do esposo, o rei Umberto I (1844-1900), depois assassinado por um anarquista da Toscana. Salada: do Francês salade, com influências do Italiano insalata, por suas variantes do norte, salata e salada. Designa prato de hortaliças, legumes, crus ou cozidos, mas especialmente alface, aos quais são acrescentados também pão tostado, sovado ou moído, ao tempero de sal, azeite, limão, vinagre etc. Mas as saladas não são apenas italianas. Duas das mais famosas são a salada russa e a salada César, esta última referida nos cardápios brasileiros de forma paradoxal: mantém-se em Português salada, e não salad, como no Inglês, mas muda-se César para Caesar, pronunciando-se “Tcízar” a palavra do Latim, como se fosse do Inglês. A iguaria foi criada durante a Lei Seca, nos anos 1920, nos Estados Unidos. As bebidas alcoólicas estavam proibidas. Para forrar o estômago de seus clientes, a comida havia acabado, Caesar Cardini (1896-1956), dono de um restaurante em Tijuana, no México, vizinha a São Diego, nos Estados Unidos, inventou o prato. Vermute: do Inglês wordwood, nome pelo qual o absinto era conhecido, com influências do Alemão Wermut e do Francês vermout. Ao lado do gim, é um dos dois ingredientes do martíni.

A VIAGEM DAS PALAVRAS: do berço ao túmulo (porque as palavras nascem, crescem e morrem)

A viagem das palavras: do berço ao túmulo (porque as palavras nascem, crescem e morrem) O Português é complicado? O jornalista gaúcho Aparício Torelli, famoso por seu humor, disse que é, porque “calça é uma coisa que se bota, e bota é uma coisa que se calça”. Mas o escritor e professor Deonísio da Silva, igualmente bem-humorado, explica que é complicado só para quem não tem a paixão do conhecimento, o gosto de extrair os sabores dos saberes de nossa amada, mas maltratada língua portuguesa. Todos nós temos história, pois as pessoas, como os dentes, têm raízes, dizia o escritor judeu-austríaco Stefan Zweig, autor de Brasil, país do futuro. As palavras também. É preciso entendê-las para amá-las, ou então seguir o conselho de Olavo Bilac: “amai para entendê-las!/ pois só quem ama pode ter ouvido/ capaz de ouvir e de entender estrelas”. Lotte & Zweig (Editora Leya), o mais recente romance de Deonísio, já publicado também na Itália, e em tradução para o Inglês e o Alemão, foi lançado no ano passado e tomou por tema o suposto suicídio do casal Lotte e Stefan Zweig. Deonísio da Silva – Esse escritor e professor, que se define como “botânico e jardineiro das palavras”, é um encantador de ouvintes e de leitores, seja nos livros, nas crônicas, nas aulas, nas conferências e palestras, e também em revistas, jornais e na rádio Bandnews, onde mantém as colunas semanais Sem papas na Língua e Pitadas do Deonísio. Doutor em Letras pela USP, ele se especializou em livros proibidos e em etimologia, suas grandes linhas de pesquisa. Escreveu 34 livros, entre romances, contos, crônicas e ensaios. Seus livros de etimologia (De onde vêm as palavras, cuja 17a edição está no prelo pela Editora Lexikon, é um bom exemplo) fascinam leitores de todas as idades pela curiosidade de palavras e expressões na longa viagem que as palavras fizeram e fazem até chegar ao Português. Algumas ainda estão vindo, como aquelas que se originam no Inglês… E seus contos e romances, já publicados também em outros países, constantemente reeditados, já receberam prêmios importantes, no Brasil (Mec, Fundação Cultural do Distrito Federal, fundações, academias etc.) e no exterior, entre os quais o Prêmio Internacional Casa de las Américas, em júri presidido pelo Prêmio Nobel José Saramago, para o romance Avante, soldados: para trás (no Brasil, em 10a edição pela Leya, e já publicado em Portugal, Cuba e Itália). Tira-gostos e aperitivo da palestra: Trabalho procede do Latim tripalium, instrumento de três paus, destinado a torturas e castigos. Salário tem uma história amarga. Veio do Latim salarium, quantia dada pelo comandante a seus soldados para eles comprarem sal. Quando a remuneração passou a ser feita em moeda, do Latim Moneta, deusa que guardava o templo onde eram cunhadas as moedas, chamou-se soldo, da redução do nome da moeda que os soldados recebiam, nummus solidus. Houve outras viagens pelo caminho e uma delas deu em dinarium, dinheiro, já no Latim vulgar. Com dinarium na bursa, bolsa, o militar, do Latim militaris, podia comprar uma calcea, calça, para cobrir as pernas e proteger-se do frio, alongando o calceus, calçado. Ficou muito confortável usar a calcea no calceus, por isso ela se tornou parte integrante do vestuário, desdobrando-se em calcea, calça, quando inteira, e media, media, meia, quando curta. A moda femina entretanto aproveitou as duas palavras e fez a meia-calça, que é meia, mas não é calça! E o diminutivo calcinha já nada tem a ver com a palavra que lhe deu origem, o calceus, calçado, pois não é veste para o pé, do Latim pedes, étimo que está presente também em tripudiar, do Latim tripudiare, saltar de pés calçados sobre o inimigo, espezinhando-o ou derrubando do pedestal o seu busto, do Latim bustum, queimado, presente em combustão, porque os antigos romanos colocavam no lugarda cremação do cadáver uma representação em mármore ou em bronze da cabeça e do tórax do defunto, do Latim defunctus, pronto, lembrando o lugar onde seu corpo, do Latim corpus, tinha sido cremado, do Latim cremare. E tchau procede de escravo, do Italiano schiavo, depois que, em dialeto, os italianos passaram a pronunciar ciavo e não schiavo, ao dizerem, em forma gentil de tratamento, sono vostro “chiavo”, ciavo, que virou ciao, saudação na chegada e na saída. Pronto, tchau! (fim) Dia 30 de novembro (sábado) A partir das 15h Entrada Franca (senhas distribuídas às 14h)

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

LIVRO PREFERIDO

https://www.facebook.com/deonisio.dasilva/posts/651332528222404?comment_id=99291610&offset=0&total_comments=1&ref=notif¬if_t=share_comment Deonísio da Silva (escritor) Castro Alves - O Navio Negreiro - Saraiva Castro Alves - O Navio Negreiro - Saraiva"O meu livro preferido é uma dúvida atroz: Dom Casmurro, de Machado de Assis, ou os poemas Vozes da África e O Navio Negreiro, de Castro Alves? Ou ainda o Gênesis ou o Evangelho de São Mateus? Fico com O Navio Negreiro, bela e trágica narrativa em poesia sobre a travessia dos escravos da África para o Brasil. Quem é contra as quotas, deveria reler O Navio Negreiro. Tudo o que de bem fizermos para os negros será pouco diante do mal que lhes causamos ao longo da História!"

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

JOAQUIM BARBOSA E O BRASIL DE PARAFUSO SOLTO

O ministro Joaquim Barbosa, hoje figura solar do Brasil, é filho da Abolição, da República e do Livro. Mas o Brasil está com o pavio aceso, tem um parafuso solto e ameaça entrar em curto-circuito, ou em turco-circuito, no caso dos malufícios que Paulo Maluf tornou emblemáticos na arte de governar. Todas essas expressões fizeram uma longa viagem até chegar ao Português, a última flor do Latim. Tudo começa na herança greco-latina fixada para sempre na alma da língua portuguesa. Trata-se de uma herança pouco estudada. O descaso com a cultura legada pelo Latim, mãe da língua portuguesa, empobrece o sistema de ensino e torna nossa juventude refém de ignorantes que lhe impõem o que bem entendem. Nossos jovens ficaram sem parâmetros. E agora têm dificuldade de avaliar o que é um texto bem escrito, onde estão os bons romancistas, os bons contistas, os bons poetas, os bons ensaístas, quais são seus livros de referência. Para agravar a crise, professores despreparados e sobrecarregados de aulas pouco podem fazer por seus alunos. Todavia o mundo em que vivemos é plural e complexo. Nele a família, a Igreja e o sistema escolar já não têm mais a hegemonia que tinham na transmissão dos saberes. Hoje a moçada aprende muito na mídia, principalmente na internet. Essa mudança, aliás, é histórica e tinha começado em fins do século XV, com Gutenberg. O poeta Castro Alves foi quem a viu com mais clareza. No poema O Livro e A América, ele diz: “Filhos do século das luzes!/ Filhos da Grande nação!/ Quando ante Deus vos mostrardes,/ Tereis um livro na mão:/ O livro — esse audaz guerreiro,/ Que conquista o mundo inteiro”. Desde minha adolescência profunda, sei este poema de cor, e minha vontade quando o cito é recitá-lo inteirinho, como quem mostra, não o rosto, os seios ou as pernas de uma mulher bonita, mas a mulher inteira, para que possamos também ver sua alma, pois é a alma que espalha a beleza por pelos e cabelos. Castro Alves continua assim: “Por uma fatalidade/ Dessas que descem de além,/ O sec'lo, que viu Colombo,/ Viu Gutenberg também./ Quando no tosco estaleiro/ Da Alemanha o velho obreiro/ A ave da imprensa gerou.../ O Genovês salta os mares.../ Busca um ninho entre os palmares/ E a pátria da imprensa achou...”. Outro dia, no Pitadas do Deonísio, na Bandnews, recitei e receitei versos de Castro Alves, dizendo o quanto ele fizera pela Abolição e pela República, na segunda metade do século XIX. E disse que sua arma tinha sido o livro, que naquela época estava também nos jornais, em forma de fragmentos, capítulos, poemas etc. Diz mais o poeta baiano, formado em Direito no Largo São Francisco, na USP, e falecido tão cedo, aos 24 anos: “Oh! Bendito o que semeia/ Livros... livros à mão cheia.../ E manda o povo pensar!” Vamos ler para entender onde estão os parafusos soltos e os fios desencapados. E prestemos atenção ao ministro Joaquim Barbosa! (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

CASTRO ALVES, O POETA DOS ESCRAVOS

No Dia da Consciência Negra, recitei, agora há pouco, no Pitadas do Deonísio, na Bandnews, fragmentos destes versos do poeta dos escravos. Eu os sei de cor desde menino. São lindos! E trazem uma epígrafe em Latim, do Lutero (Invideo quia quiescunt.); outra em Português, do Alexandre Herculano (Tu que passas, descobre-te! Ali dorme o forte que morreu). A CRUZ DA ESTRADA Castro Alves Caminheiro que passas pela estrada, Seguindo pelo rumo do sertão, Quando vires a cruz abandonada, Deixa-a em paz dormir na solidão. Que vale o ramo do alecrim cheiroso Que lhe atiras nos braços ao passar? Vais espantar o bando buliçoso Das borboletas, que lá vão pousar. É de um escravo humilde sepultura, Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz. Deixa-o dormir no leito de verdura, Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs. Não precisa de ti. O gaturamo Geme, por ele, à tarde, no sertão. E a juriti, do taquaral no ramo, Povoa, soluçando, a solidão. Dentre os braços da cruz, a parasita, Num abraço de flores, se prendeu. Chora orvalhos a grama, que palpita; Lhe acende o vaga-lume o facho seu. Quando, à noite, o silêncio habita as matas, A sepultura fala a sós com Deus. Prende-se a voz na boca das cascatas, E as asas de ouro aos astros lá nos céus. Caminheiro! do escravo desgraçado O sono agora mesmo começou! Não lhe toques no leito de noivado, Há pouco a liberdade o desposou.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

PIZZA, SALADA, FILÉ: QUEM OS INVENTOU?

A pizza Margherita, com muçarela, tomate e manjericão, para indicar as três cores da bandeira italiana, foi inventada por um pizzaiolo chamado Raffaele Esposito. A rainha Margherita visitava Nápoles em 1889 e ele resolveu homenageá-la. E quem inventou a Salada Caesar, pronunciada “Tcízar” no Brasil, sem que traduzam salada? Na década de 20, com a vigência da Lei Seca, o ítalo-americano Caesar Cardini abriu um restaurante em Tijuana, no México, na fronteira com os EUA, para poder atender os clientes de San Diego, na Califórnia, onde ele não podia vender bebidas alcoólicas. Atravessar a fronteira para comer a célebre salada tornou-se pretexto de pessoas simples e famosas.
E no entanto o prato nasceu acidentalmente. O restaurante encheu demais num certo dia, e o seu proprietário não sabia o que fazer. Havia apenas alface, azeite, alho, ovos, pão e limão. Pois com algumas folhas de alface, seis colheres de sopa de azeite, um dente de alho, um ovo caipira, uma colher de suco de limão, um pouco de molho inglês, uma pitada de pimenta, duas fatias de pão branco cortadas em cubinhos e 25 gramas de queijo parmesão ralado grosso, ele passou a fazer o prato para servir quatro pessoas, que se tornou apreciado por gente como Wallis Simpson (Duquesa de Windsor), Clark Gable, Yves Saint Laurent e o barão de Rothschild, que atravessavam a fronteira para juntar o prazer de comer e beber, quando a segunda atividade era crime nos EUA. “A descoberta de um novo prato traz mais alegria à humanidade do que a descoberta de uma nova estrela”,escreveu o celebérrimo gastrônomo francês Anthelme Brillat-Savarin no seu livro referencial A fisiologia do gosto. E não é que me cai às mãos o livro de James Winter, Quem colocou o filé no Wellington?, que acabei de ler. O subtítulo indica o assunto: 50 clássicos da culinária: quem os criou, quando e por quê.
O Filé à Wellington do título não foi criado pelo Duque de Wellington, vitorioso sobre Napoleão em Portugal, na Espanha e principalmente na Bélgica, onde jogou a pá de cal sobre os planos do Corso na famosa Batalha de Waterloo. É verdade que no período entre 1813 e 1815, quando ele liquidou o sonho napoleônico de dominar a Europa, o exército inglês consumia 300 bois por dia. Todavia o prato não foi inventado por ele. Já Napoleão criava pessoalmente pratos para celebrar suas vitórias. Um dos mais famosos é o Frango à Marengo, criado na Primavera de 1800 para comemorar sua vitória na Batalha de Marengo, no Piemonte. É dele a frase: “qualquer exército marcha com seu estômago”. Não sei cozinhar e talvez por isso aprecie tanto quem saiba, pois admiramos mais o que não sabemos fazer e outros fazem tão bem. Não cozinho, não pinto, não danço, só toco teclado e assim mesmo exclusivamente por pauta. Escrever e ensinar, não, isso posso fazer de ouvido...e de livros. São o que ignoro menos, talvez! (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

UM ENGANO SOBRE A FEIJOADA

Na Rádio BandNews FM, hoje, com Pollyanna Bretas e Maíra Gama, falamos de comida: um prato típico, a feijoada. E desfizemos o engano de que foi inventado por escravos! Isso não é verdade! Temos meios e documentos de provar o contrário. Foram os portugueses que trouxeram e Portugal este prato, onde já existia ainda no primeiro milênio, tornando-se muito popular depois da invasão árabe, no ano 700, só que com feijão branco, aqui substituído pelo feijão-preto. A feijoada é um prato carioca! Foi inventado no famoso Restaurante G. Lobo, popular, fundado em fins do século XIX, que servia pratos bons e baratos. Era pronunciado "Globo", nome de um restaurante chique, que servia pratos finos e caros. Foi fechado em 1905 porque a rua onde ficava, desapareceu. Seu chef e proprietário alterou a receita, acrescentando arroz, laranja, couve, farofa e torresmos. Os dicionários registram mais de 170 tipos de feijão, uma palavra que veio do Grego, passou pelo Latim e chegou ao Português. Alguns com nomes muito curiosos, começando pelo feijão-carioca, feijão-frade, feijão-fradinho, feijão-padre, feijão-papa, feijão-mulato, feijão-mulatinho, feijão-mulata-gorda, feijão-lagartixa. E consolidou a expressão feijão-com-arroz, comida típica do brasileiro, que designa a simplicidade no modo de dizer e fazer as coisas. O caminho foi o seguinte: a feijoada portuguesa virou feijoada à brasileira, registrada no jornal Diário de Pernambuco, na edição do dia 7 de agosto de 1833. Em 1848 o mesmo jornal anunciava a venda de toucinho. No dia 6 de janeiro de 1849, o Jornal do Commércio, do Rio, anuncia que que "o Novo Café do Commércio servirá feijoada à brasileira às terças e quintas-feiras". A feijoada era comida da elite até então!

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

TODA MULHER TEM MEDIDAS PROVISÓRIAS

Um pouco mais esbeltas em certas épocas, um tantinho mais reconchudinhas em outras. As variáveis são muitas: idade, alimentação, exercícios e influências hormonais levam-nas a modificar mais o corpo do que o espírito, talvez. Mas é a alma feminina que sofre mais com essas variações de estilo. A brasileira Marta Hacker Rocha tinha duas polegadas a mais e perdeu o título de Miss Universo em 1954 para a americana Miriam Stevenson. Todavia todos os homens do mundo, menos o júri daquele ano, é claro, acharão sempre que a vencedora tinha duas polegadas a menos! Ninguém quer amar um cabide! Só os mentirosos e os hipócritas ousam dizer que amam um cabide! Isso é coisa de costureiro e de quem não gosta de mulher!
Até a americana olhou com inveja para os quadris da brasileira. Mas uma inveja doce. Ficou tão surpresa com a vitória, que deu à perdedora o automóvel recebido de presente da direção do concurso. Os próprios organizadores, cobertos de remorso, deram um prêmio especial de “Garota Popular” a Marta Rocha. A decisão tinha sido no tapetão. As duas tinham chegado empatadas à finalíssimas, mas o patrocinador, um fabricante de maiôs, queria vender mais peças no mundo inteiro, não apenas no Brasil e na África, e por isso adotou a silhueta dominante entre aquelas que podiam comprar maiôs: as mulheres americanas e europeias. Naquele ano participaram 33 candidatas do mundo inteiro. Nenhuma americana tinha ainda vencido o Miss Universo. E era a primeira vez que o Brasil participava do certame. Quando Yolanda Pereira venceu, em 1930, a competição não era oficial e por isso o título não foi reconhecido. A americana Olivia Culpo venceu o concurso Miss Universo de 2012 e recebeu o título das mãos da angolana Leila Lopes. A Miss Universo anterior tinha sido a mexicana Ximena Navarrete, quebrando uma sequência de várias venezuelanas. Ainda não saiu a edição 2013.
A gaúcha Ieda Maria Vargas, natural de Pelotas, tornou-se Miss Universo em 1963. E a baiana Marta Vasconcelos, professora de alfabetização em Salvador, repetiu o feito em 1968. Todas as vencedoras foram celebradas, mas a derrota de Marta Rocha marcou a alma dos brasileiros para sempre, semelhando a derrota da seleção brasileira para o Uruguai na Copa do Mundo de 1950. Foi um quadriênio de derrotas inesquecíveis. Perdemos também a Copa de 50 e caímos nas quartas de final diante da Hungria por 4 x 2. A derrota de Marta Rocha foi tratada com humor até mesmo pela perdedora, que gravou a marchinha de Alcir e Pedro Caetano, cujos versos mais insistentemente lembrados diziam: “Por duas polegadas mais/ Passaram a baiana pra trás/ Por duas polegadas!/ E logo nos quadris/ Tem só, seu juiz!”. No próximo ano, uma efeméride difícil de esquecer: sessenta anos da derrota de Marta Rocha no concurso de Miss Universo. Mas por que não esquecemos isso? Algumas derrotas nos ensinam mais do que as vitórias! (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

SÃO CARLOS FAZ 156 ANOS! VIVA!

As cidades, como as pessoas e as palavras, envelhecem. Dia 4 de novembro, São Carlos (SP) vai fazer 156 anos. Esta idade é superada apenas por palavras , uma vez que nenhuma pessoa chega a tanto. Tenho muitos leitores e amigos em São Carlos e prezo muito os vínculos com a cidade, que incluem a UFSCar, onde ensinei por mais de vinte anos, e o jornal Primeira Página, do qual sou cronista há cerca de trinta anos. Por isso, devo uma palavrinha sobre o aniversário, que não é apenas da cidade, é do município. Pero Vaz de Caminha diz ao rei Dom Manuel em sua famosa crônica, a Carta, que não deixará de falar da nova terra, “ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer”. É o meu caso. Se merecer aprovação, que seja alheia. Quem tem que gostar da crônica é o leitor, não o autor! São Carlos começou a existir com a Sesmaria do Pinhal, fixada em 1831, com 4 léguas de comprimento e uma de largura. Sesmaria é a sexta parte da divisão de um território. O étimo está presente também em semestre. Para uma ideia da extensão das terras, uma légua tinha 3.000 braças ou 6.600 metros. Uma sesmaria tinha, pois, 17.424 hectares ou 174.240.000 m2. Légua é palavra que veio do Celta leak, pedra. As distâncias eram marcadas com pedras. Braça veio do Latim bracchia, braços, plural de bracchium, pois eram usados os dois braços estendidos para fixar essa medida. Em 1857, no dia 4 de novembro, os proprietários e moradores da Sesmaria do Pinhal, na maior parte herdeiros das famílias Arruda e Botelho, celebram a fundação de São Carlos, que é elevada a vila em 1865, com cerca de 6.000 habitantes, e à condição de cidade em 1880. Naqueles 15 anos, a população cresceu mais de 150%. No censo de 1886, São Carlos aparece com 16.104 almas. O município logo teve café e escravos. E não seria o que se tornou sem imigrantes, principalmente italianos. Havia até um vice-consulado da Itália na cidade. E não seria o que hoje é sem os migrantes que para cá vieram, principalmente para suas indústrias, escolas, faculdades e universidades, notadamente a USP, em 1953 (com um câmpus), e a UFSCar, em 1970.
Como a conversa clara e não a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, o trato justo do aniversário de São Carlos passa pelo exame de seus problemas, que eram outros ontem e foram resolvidos, como o fim da escravidão. Mas vieram novos atrapalhos! Vive-se bem em São Carlos, mas todos viveriam melhor se pessoas de valor não fossem excluídas, ora por um, ora por outro governo. Esta pequenez não faz bem nem aos que a praticam!
O governo municipal tem que ser o primeiro a garantir a qualidade de vida. E essa busca de qualidade em todos os setores passa pelo aproveitamento de quadros à luz de critérios que todos possam respeitar! Erros crassos não devem ser repetidos. Dito isto, feliz aniversário a São Carlos! A celebração é de todos e tem muitos motivos! (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O JOÃO-DE-BARRO E A VACA SEM RABO

Um joão-de-barro estava atrasando as obras de uma estrada. A árvore onde ele fizera sua casinha não podia ser derrubada. Ambos estavam sob a proteção das leis vigentes. Todos foram à Justiça. A sociedade para o progresso do joão-de-barro e as entidades protetoras dos pássaros, dos morcegos e de outros animais voadores pleitearam a interrupção das obras. Quanto às vidas humanas perdidas naquela curva sinistra e aos demais que ali morreriam, ninguém propôs sua defesa! Por sua vez, a empreiteira e o Estado reclamaram o direito de fazer estradas.
único que não recorreu ao Judiciário foi o Furnarius Rufus, como é conhecido em Latim o joão-de-barro. Que de barro não é, de barro é apenas a casinha que ele faz desde tempos imemoriais, sem jamais ter estudado engenharia ou arquitetura. Todavia nenhum juiz precisou deliberar. Um capiau ofereceu a solução. De vez em quando dava um temporal ali e muitas árvores eram arrancadas.
O capataz não demorou a entender a sabedoria da proposta do caipira. E em noite de trovoada encostou a lâmina de uma das máquinas na árvore, derrubando-a. No dia seguinte, um fiscal compareceu para atestar que o responsável pela nova situação tinha sido um vendaval. Como ainda não se leva a natureza aos tribunais, o caso ficou por isso mesmo. Estava relembrando o ocorrido, quando o juiz José Maria da Costa, autor do Manual de Redação Jurídica, relatou caso semelhante, ocorrido em município do interior de São Paulo, em cuja comarca o processo foi instaurado. Um caminhão atropelou uma vaca de raça. Em consequência do acidente, o animal, avaliado em quinhentos mil na moeda da época, perdeu o “apêndice caudal”, de acordo com o atestado emitido pelo veterinário para “fins indenizatórios”. Cá para nós, animal, in casu, era o motorista, que não entendeu os sinais de luz dos outros carros, vindos em sentido contrário, alertando para o perigo na estrada. A vaca sobreviveu, mas perdeu o rabo na trombada. Sem o “apêndice caudal”, ela não pôde mais espantar as moscas, que encheram de larvas a parte traseira de suas carnes. Ela não alcançava espantá-las com as orelhas ou com as guampas. E muitos bernes surgiram ali!
Sem o “apêndice caudal” – como se sabe, a maioria dos advogados abomina a simplicidade no ato de escrever e exagera nas complicações de estilo – a vaca não pôde mais ser exibida em exposições, onde eram realizados os concursos de miss vaca, e seu dono pleiteou indenização dos danos sofridos. Vejam o que nossos juízes são obrigados a julgar! O juiz encarregado do processo confidenciou a um colega do fórum: “nem que a vaca tussa vou dar sentença favorável ao dono do animal”. “Mas assim a vaca vai pro brejo”, disse o colega, já às risadas. “Ele quis nos dar o drible da vaca”, replicou o primeiro juiz. E a indenização foi negada. De cabo a rabo, esta é a crônica desta semana. (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

TRADUZINDO O QUE AS MULHERES PENSAM QUE PENSAMOS

Tascabili, plural de tascabile, aplica-se no Italiano a algo pequeno, que se pode carregar consigo, na tasca, bolsa, que veio de taska, uma palavra da língua dos francos que passavam por Frankfurt, na Alemanha; aliás, deram nome àquela cidade. Os italianos, ancestrais de tanta gente que ora me lê, e meus ancestrais também, por parte de minha mãe Da Boit, precisam saber que tascabile se aplica também à mulher bonita que seja baixinha, a um pequeno automóvel, ampliando o significado original de tasca, que é bolsa. A cidade alemã tem este nome porque ali o rio Meno dava vau, e os francos podiam passar com suas tropas. Por isso o nome completo é Frankfurt am Main (Passo dos Francos no rio Meno). A editora dos livros de Umberto Eco faz esses tascabili em Milão, do Latim Mediolanum, depois Mediolano em Italiano, consolidando-se em Milano, cidade fundada pelos celtas e conquistada dos ínsubres pelos romanos no ano 222 a.C. De quebra, lembremos que as duas cidades, Frankfurt e Milão, fazem algumas das maiores feiras mundiais, de que são exemplos a do Livro na primeira, e as de moda, na segunda. Estou fazendo como o escritor de Bologna, que cerca o assunto de todos os lados com sua vasta erudição e, logo às primeiras páginas, dá mostras de que os apressados devem procurar outro livro.
Ele começa dizendo que tradurre (traduzir) não é coisa para despreparados. Os próprios dicionários ajudam pouco, ainda que ele cite apenas os melhores. Em geral, traduzir é dare l´equivalente (dar o equivalente). Já vimos que não é fácil fazer isso. O equivalente de tascabile pode aplicar-se a um livro, um automóvel ou uma mulher baixinha... Na infância, ouvi muito esses versos: “Coisa que eu não gosto/ É de mulher baixinha/ Entra pela sala e sai pela cozinha”. O compositor estava enganado! Até Roberto Carlos louvou a mulher baixinha numa canção.
E em Portugal, afinal sou um da Silva, a jornalista Catarina Fonseca revelou “as dez coisas que os homens mais olham” nas mulheres. Em ordem decrescente são: “seios, pernas, roupa, cabelos, altura, boca, cintura fina, rabo, olhos e voz”. E sobre os enganos das três coisas que as mulheres acham que os homens acham importantes nelas, eis: 1ª: Trabalho: “Só começam a preocupar-se com o nosso trabalho depois de terem ido para cama conosco cinco vezes”. 2ª: Quilos a mais: “Se formos apenas um bocadinho rechonchudas, vão achar lindo”. 3ª. Perfume: “Os homens só notam se tivermos despejado o frasco em cima. E estivermos nuas”. Às vezes, as mulheres nos parecem confusas, mas sempre nos desconcertam e surpreendem. Não vivemos sem elas! Sem traduções, também não vivemos! Mas daí é só recorrer aos livros e aos outros! (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

terça-feira, 15 de outubro de 2013

DIA DO PROFESSOR

Hoje é Dia do Professor. Nunca é demais lembrar que o ensino básico, ressalvadas as ilhas de excelência, que são poucas e são ilhas, é um mar de ignorância e de descaso, com salas descuidadas, escolas sem bibliotecas etc. Autoridades da Educação, na ânsia de melhorar os indicadores de qualidade, dão ordens para baixar o nível de exigências, com vistas a fazer com que os alunos sejam aprovados de qualquer modo. Mas estudos isentos demonstram que boa parte dos alunos não sabe nem ler, DEPOIS de concluído o ensino médio. O primeiro país do mundo a exigir que todos fossem à escola, dando condições satisfatórias de ensino e de aprendizagem a professores e alunos, foi a Alemanha de Bismarck, portanto ainda antes da unificação. No Brasil do século XIX, como comprova o anúncio abaixo, publicado no Estadão, havia docentes altamente qualificados, até para trabalhar nas fazendas como professoras particulares. Outro exemplo é Lição de Amor, o filme de Eduardo Escorel, resultado da adaptação de um conto de Mário de Andrade. E eu dou o terceiro testemunho deste post: fiz o Curso Primário no Grupo Escolar Jacinto Machado, onde eram professoras Edite Zanatta (que me alfabetizou), Alda Frassetto (mãe de meu amigo de infância, Enio Frassetto), Priscila Trevisol (tia de minha querida amiga Eliane Trevisol Tomazi), Alzira (cujo sobrenome esqueci), Estela (que vim a saber no seminário, no ano seguinte, ser estrela em Latim, a quem homenageei no conto O Rato na Balança, porque sou do signo de Balança) e outras igualmente inesquecíveis. Mas minha profunda saudade será sempre de dona Edite, que, como tenho proclamado, tinha um cheirinho bom. Foi ela quem lavrou a terra deste ser onde anos depois os padres, nos seminários de São Ludgero e de Tubarão, ambos em SC, lançariam as sementes que fizeram de mim a pessoa que sou, em tudo na contramão dos usos e costumes que depois se arraigariam no Brasil, com apedeutas mandando nos cultos, e ignorantes determinando o que é bom para todos nós, e escolarizados subservientes cheios de indulgências para com os de cima e cruéis para com os de baixo. Tenho dito. Mas, resta a esperança! Como diz Olavo Bilac, em seus célebres versos abençoando a tantos, bendito seja "o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto/Que ideou, depois do berço e do lar, o jazigo;/E o que os fios urdiu e o que achou o alfabeto;/ E o que deu uma esmola ao primeiro mendigo”. E, por fim, exalta quem “descobriu a Esperança, a divina mentira,/ Dando ao homem o dom de suportar o mundo”. Sempre que tive problemas no ato de ensinar, eles não decorreram dos meus defeitos, que são muitos, mas de minhas qualidades, que são poucas, e ainda assim desarrumam a alguns excessivamente sossegados com suas astúcias para enganar os parvos. É assim que vejo o Dia do Professor, hoje! Se houver reencarnação e eu puder escolher, quero ser a professora do anúncio!

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

PORTUGUÊS DE PORTUGAL: TRAULITADA NO CRONISTA

Sou aderente (assinante) e não paro no pedágio, mas o guarda me pede os documentos do autocarro. Olha-os bem e diz: “Está tudo em ordem, mas cuidado porque lá adiante, depois daquela azinhaga (rua) ao lado do prédio, há uma azêmola (besta) na pista. Se pisar no breque, assustado, o carro pode despistar. O senhor não está entre as dez e as onze (bêbado), está? Respondo que não ingiro bebida de álcool nunca! Semana passada estava numa festa, o escanção (sommelier) passava toda hora com a jarra de vinho, eu sempre recusava, e ele sempre oferecia de novo. Essa gente perdeu a memória! Mas o bom homem coça a fusca (arma) no coldre e me manda prosseguir.
Chego à praia, depois de passar pela azêmola (besta de carga), mas era um badano (cavalo). O guarda confundira-se. O banheiro (salva-vidas) está instalado bem acima das ondas, vestido de calção vermelho, pronto a salvar algum afogado. Algumas mães estão a levar os putos (meninos) para a sanita, que outros conhecem por retrete. No Brasil dizem privada, sanitário, toalete também w.c., abreviando a expressão do Inglês water closet (armário d´água). Vejo ao longe um puto (menino) cheio de adesivos (esparadrapos). Pergunto a uma rapariga (moça), só para bater uma prosa, pois ela é um borrachinho (gatinha), o que houve com ele. Responde-me que está assim estrafegado porque foi atacado por um canzarrão. Foi grande o chulé (bagunça). Posto-me atrás da bicha (fila) e espero a minha vez. Estão a servir algo pronto-a-comer, que no Brasil chamam fast food . De novo o Inglês. Atrás de mim, senta-se um senhor que me parece um cabeça de turco, que no Brasil chamam testa de ferro. Nos arredores, todos sabem que ele é dono de três boates onde trabalham brasileiras! Portanto, as casas pertencem a outros donos! Voltei a sentar-me. Peguei o telemóvel, mas deu impedido o telefone da Maria. Ia desligar, porém no écran (tela) passou a rodar o trecho de um filme sobre a lua-bebé (satélite) dos russos. Fiquei a pensar: como filmaram essa luinha no espaço sideral? Mas deveria ser filminho brasileiro: estava escrito “com o Sputnik, os comunistas venceram a primeira batalha da guerra espacial, em 1957”. Em russo, Sputnik quer dizer companheiro! Chamei o garçom, pedi uns pipis (miúdos de frango), que comecei a comer com gosto, regados a um copo de vinho alentejano. Mas quase que não pago: o dinheiro que trazia, eu o tinha gasto no pagamento de propina (taxa) na universidade, hoje foi dia de matrícula! Quase que fico com o rabo à seringa! Quando ia saindo, um reguila (briguento) passou a discutir com alguns escalda-favais (idem) e espirra-canivetes (ibidem). E estavam comendo reineta (maçã), bem pândegos (alegres)! O garçom era meio saloio (bobo), deveria ter chamado a polícia logo! Que sarilho (bagunça) que deu no liceu (escola), meu Deus! (xx) PS. Agradeço ao jornalista Roldão Simas, autor de Dicionário Lá & Cá (Editora Thesaurus). º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

AINDA FRANKFURT

Estou aguardando ser convidado para alguma Feira Internacional de algum outro tema, cujo homenageado seja o Brasil, para falar de Literatura Brasileira ou ao menos das Literaturas de Língua Portuguesa (incluindo Portugal e outras nações lusófonas). Vocês imaginam o país X ser homenageado em alguma Feira Internacional de Livro, e seus escritores, ou alguém em nome deles, falarem, por exemplo, da demanda de Raio-X para dizer que no interior daquele país ainda é frequente baterem em crianças e quebrarem seus ossos; que tais ou quais etnias são excluídas; que a distribuição de renda é injusta etc.? E de Literatura? Quando falaremos? Em feiras de Couro & Calçado, Soja, Milho, Arroz, Minérios? Em redação, quando o aluno sai do tema, ganha zero! Em discursos deveria valer o mesmo critério. Machado de Assis - o maior escritor de todos os tempos que o Brasil já teve (pobre, órfão, epiléptico, gago, sem escola, mulato num país escravocrata e vitimado por muitas outras mazelas - jamais aproveitou-se disso para dar uma de coitadinho. Ao contrário, quando convidado por uma revista de Nova York a falar da Literatura Brasileira, legou-nos o clássico ensaio "Instinto de Nacionalidade", ainda hoje bibliografia indispensável! Cansei! E, ao lado dessas fraudes de temas, vem a mídia reclamar que tal ou qual autor vende muito e não foi a Frankfurt representar o Brasil. Pois eu digo, este foi um dos poucos acertos dos organizadores! Quando é que as vendas serviram de critério para avaliar um bom autor? À semelhança da jabuticaba, só no Brasil!

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O BRASIL NA FEIRA DO LIVRO DE FRANKFURT

Vários escritores brasileiros dão a impressão de que falam apenas em nome de si mesmos em Frankfurt. Podem falar, mas não têm minha procuração para dizer o que estão dizendo. Muitos deles são os mesmos que só conseguem falar de si mesmos nos livros que escrevem. "De te fabula narratur", diziam os antigos romanos, mas o entendimento deles tinha complexas sutilezas, não era autobiografia. Quem só consegue falar de si mesmo, de seus familiares etc. nos romances, não sabe lidar com uma qualidade indispensável ao bom romancista, a imaginação! Penso diferente: meu tema é a vida alheia, porém inventada. E também não estou gostando nem um pouquinho das declarações de brasileiros na Feira de Frankfurt, reclamando a presença de escritores de outras etnias, de outras minorias, não sei o quê mais....O único critério a ser respeitado é o talento. De novo, estou num exército pequeno: não endosso as críticas de Paulo Coelho (se seus amigos fossem, a exclusão estaria resolvida...) nem a forma de organizar a lista. Para começar, nenhuma literatura do mundo teve, tem ou terá em qualquer tempo 70 escritores para enviar a uma Feira Internacional! As editoras, sim, essas podem mandar quantos quiserem, pois estão fazendo negócio. Mas às custas do Estado? Com o seu, o meu, o nosso dinheiro?

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O PORTUGUÊS DO BRASIL

Desconheço o autor do texto abaixo. Se souberem, me avisem, por favor pelo e-mail teresa97@terra.com.br! Obrigado! "*Na recepção dum salão de convenções, em Fortaleza* - Por favor, gostaria de fazer minha inscrição para o Congresso. - Pelo seu sotaque vejo que o senhor não é brasileiro. O senhor é de onde? - Sou de Maputo, Moçambique. - Da África, né? - Sim, sim, da África. - Aqui está cheio de africanos, vindos de toda parte do mundo. O mundo está cheio de africanos. - É verdade. Mas se pensar bem, veremos que todos somos africanos, pois a África é o berço antropológico da humanidade... - Pronto, tem uma palestra agora na sala meia oito. - Desculpe, qual sala? - Meia oito. - Podes escrever? - Não sabe o que é meia oito? Sessenta e oito, assim, veja: 68. - Ah, entendi, *meia* é *seis*. - Isso mesmo, meia é seis. Mas não vá embora, só mais uma informação: A organização do Congresso está cobrando uma pequena taxa para quem quiser ficar com o material: DVD, apostilas, etc., gostaria de encomendar? - Quanto tenho que pagar? - Dez reais. Mas estrangeiros e estudantes pagam *meia*. - Hmmm! que bom. Ai está: *seis* reais. - Não, o senhor paga meia. Só cinco, entende? - Pago meia? Só cinco? *Meia* é *cinco*? - Isso, meia é cinco. - Tá bom, *meia* é *cinco*. - Cuidado para não se atrasar, a palestra começa às nove e meia. - Então já começou há quinze minutos, são nove e vinte. - Não, ainda faltam dez minutos. Como falei, só começa às nove e meia. - Pensei que fosse as 9:05, pois *meia* não é *cinco*? Você pode escrever aqui a hora que começa? - Nove e meia, assim, veja: 9:30 - Ah, entendi, *meia* é *trinta*. - Isso, mesmo, nove e trinta. Mais uma coisa senhor, tenho aqui um folder de um hotel que está fazendo um preço especial para os congressistas, o senhor já está hospedado? - Sim, já estou na casa de um amigo. - Em que bairro? - No Trinta Bocas. - Trinta bocas? Não existe esse bairro em Fortaleza, não seria no Seis Bocas? - Isso mesmo, no bairro *Meia* Boca. - Não é meia boca, é um bairro nobre. - Então deve ser *cinco* bocas. - Não, Seis Bocas, entende, Seis Bocas. Chamam assim porque há um encontro de seis ruas, por isso seis bocas. Entendeu? - Acabou? - Não. Senhor é proibido entrar no evento de sandálias. Coloque uma meia e um sapato...

DEONÍSIO E JOSUÉ CULTIVAVAM MILHO E REPOLHOS

Houve um tempo em que, na sociedade do escritor Josué Guimarães, a quem eu amava como a um pai, cultivamos repolhos e milho. Depois, para não inflacionar o mercado, e, dadas as dificuldades de transporte, tanto as espigas quanto os repolhos cresciam muito com os insumos literários, abandonamos o cultivo daquela gramínea (sim, o milho é uma gramínea) e dos hortifrutigranjeiros, e nos dedicamos apenas ao jornalismo, à docência e à literatura. Mas Josué Guyimarães só aceitou ser professor fora da sala de aula!

domingo, 6 de outubro de 2013

SUSAN BENNETT: O ROSTO DE SIRI, VOZ DE CELULARES E IPADs

"Quem tem um Iphone ou um Ipad sabe que pode fazer uma série de perguntas ou organizar a sua agenda com a ajuda de Siri. A assistente pessoal tem resposta para quase tudo. No caso dos EUA, é uma mulher que dá voz a Siri, alegadamente por os norte-americanos serem mais recetivos a uma voz feminina. Mas no Reino Unido, por exemplo, é um homem. Segundo o site Slate, a Apple pensou que os britânicos teriam mais confiança numa voz masculina. Não existe ainda a versão portuguesa. Susan Bennett, que no passado já deu a sua voz a máquinas multibanco e sistemas de navegação por satélite, contou à CNN que só soube que era dela a voz da Siri norte-americana quando foi alertada para um amigo. "A primeira vez que ouvi a minha voz como Siri foi quando um amigo me enviou um email e disse: 'És tu?", contou Bennett. "Fui ao site da Apple e foi aí que ouvi a voz", explicou. As gravações para a voz de Siri foram feitas em julho de 2005, ao longo de um mês, durante quatro horas por dia. "Não fazia ideia onde iria acabar", disse Bennett." (Diário de Notícias, Lisboa, dia 6 de outubro de 2013)

sábado, 5 de outubro de 2013

GATO, LEQUE E MATA-RATOS

Tres mil historias de frases y palabras que decimos a cada rato (Três mil histórias de frases e palavras que dizemos a todo momento). Seu autor é o jornalista e contista argentino Héctor Ziemmerman. Sergius Gonzaga, meu colega de mestrado na UFRGS e também de relinchos, quando nos encontramos com o historiador Voltaire Schilling, me trouxe da Argentina este presente. Foi Mário Quintana quem me disse que amigos relincham quando se encontram. Não dizemos essas palavras a cada rato que passa por nós. Em Espanhol, rato veio do Latim raptus, furto feito com pressa, pois o gatuno precisa ser rápido. Que injustiça, aliás, chamar gato de ladrão e vice-versa. O bichano serve-se do que é seu. No conceito dele, os patrões são pessoas a serviço de Sua Majestade, o Gato. Basta olhar-lhe o porte! O digitígrado tem postura de rei, de soberano! O cachorro, não! O cachorro pode até ter ares de fidalgo, mas seu dever é servir! Rato é também camundongo. em Português, palavra trazida pelos escravos que falavam o Umbundo, que conhece o bicho por okamundongo. No Quimbundo, kamundongo designa o sujeito civilizado. Claro! O sujeito da cidade vinha à aldeia africana para fazer com eles o que os ratos faziam com os cereais na tribo vizinha: roubá-los! Já mata-ratos designa cigarro ou bebida de má qualidade. O primeiro verbete do livro que ganhei é abanico, leque. Deriva de abano, peneira. O leque precedeu os ventiladores e os ares-condicionados. Leque tem este nome porque era importado das ilhas Léquios, na China. Abano, em Português, é aceno. Mas está também na expressão “orelhas de abano”. Nas duas línguas, o étimo é o mesmo: ao saudarmos uns aos outros de longe ou ao nos refrescarmos com um leque, com um chapéu ou com qualquer coisa à mão, fazemos um gesto semelhante ao dos agricultores, que abanavam uma peneira com café, milho, arroz, feijão etc. Pulemos para Copacabana, sexta-feira passada, Hotel Sofitel, à tarde. Minha palestra era às 14h e tinha por título A Arte de Ensinar. Quando sou chamado para subir à tribuna, um dos fotógrafos abre um largo sorriso e diz que é meu ouvinte na Bandnews, onde faço três programas semanais sobre a viagem as palavras, do berço aos dias de hoje, para significar o que hoje significam. E quando descia da tribuna, vários vieram me dizer que me leem há mais tempo, toda semana, na revista Caras, e desde há algum tempo no Facebook. Sou fascinado, não por esta ou aquela maneira de fixar o modo de escrever as palavras, que em geral é arbitrário, mas pela viagem que elas fizeram e fazem ao longo da História. Sou professor e escritor desde os meus verdes anos. Nunca tive dificuldade de fazer com que alunos, leitores e ouvintes partilhassem a mesma curiosidade por esses saberes. Quem parte e reparte, fica com a melhor parte. Assim trato como amigos os alunos, leitores e ouvintes, sempre atentos ao que falamos e escrevemos. º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

ETIMOLOGIA DE CHAMPANHE, MÁGICO, TAÇA, PAUTA

Champanha: do Francês champagne, por influência da região chamada Champanhe, a leste de Paris, onde a bebida foi originalmente fabricada. Designa vinho espumante, em geral branco, podendo ser também rosado, quando, por influência do Francês, é mais conhecido como rosé. Vinhos do mesmo tipo, ainda que fabricados em outras regiões, passaram a ser conhecidos pelo mesmo nome e chegaram a outros países. Assim, o Brasil, grande produtor de vinhos, também fabrica champanha.
Mágico: do Grego magikós, pelo Latim magicus, que encanta por realizar feitos cuja lógica desconhecemos, como tirar um coelho da cartola. Há mágicos profissionais, mas os há também amadores, como é o caso do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro (72). Em seu livro de memórias, A Sociologia como Aventura, o cientista social paulista José de Souza Martins (75) narra este episódio: “Sem dizer nada, pegou uma laranja e cortou-a ao meio, sem descascá-la. Tirou de dentro da fruta uma nota de um dólar americano, devidamente molhada pelo caldo. Os circunstantes ficaram boquiabertos. (...) João Ubaldo explicou-lhes que Cuba estava perdendo dinheiro. Exportava laranjas a preços ínfimos, quando bastava cortá-las e extrair de dentro o dólar que cada uma continha. Puseram em dúvida o que haviam visto. João Ubaldo cortou outra e tirou de dentro outro dólar. Desafiado, cortou uma terceira e novo dólar saiu de lá. Os cubanos devem estar até hoje procurando entender como é que ele conseguia fazer aquilo. Eu estou.”
Naipe: de origem obscura, provavelmente do Catalão antigo naip. Designa sinal gráfico para distinguir cada um dos quatro grupos das cartas do baralho: ouros, copas, paus, espadas. Aplica-se também na aferição de qualidades de profissionais, separando-os: não são do mesmo naipe, isto é, têm talentos ou valores diferentes. Uma curiosidade dos quatro reis do baralho é que as figuras foram baseadas em soberanos muito conhecidos na História: Davi (1015-975 a.C.), rei de Israel, é o de copas; Carlos Magno (768-814), rei dos francos e imperador dos romanos, é o de espadas; a Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), rei da Macedônia e um dos maiores generais da Antiguidade, coube o de paus; e o general romano Júlio César (101-44 a.C.), que jamais foi rei nem imperador, mas teve muito poder, ficou com a carta de ouro. Pauta: do Latim pacta, plural de pactum, pacto, tratado, contrato. Designa lista de assuntos sobre os quais se vão fazer reportagens. Também a pauta musical, conjunto de um a cinco linhas (ou mais) horizontais, paralelas e equidistantes, entre as quais e sobre as quais são escritas as notas, tem origem no mesmo étimo, uma vez que o verbo latino é pangere, cravar, espetar, fixar, marcar. Nos dicionários, são encontrados muitos outros significados, daí lermos: “pauta de exportações”, onde aparece a relação dos produtos; folhas com pautas, para diferenciá-las das folhas brancas destinadas à impressão e não a manuscritos. Na escola antiga, era usado um tipo de caderno cujas linhas semelhavam uma pauta singular. Eram os cadernos de caligrafia, cujas folhas traziam marcados e separados os lugares para as letras minúsculas e maiúsculas, e ainda limitavam a extensão dos caracteres acima e abaixo, de modo a garantir uma boa mancha para o manuscrito. Rádio: da redução de radiofonia, palavra composta de étimos latino, radius, e grego, phoné, voz, som. Designa preferencialmente o conjunto de emissora e receptor, juntos ou separados, obra do engenheiro eletricista italiano Guglielmo Marconi (1874-1937), inventor do rádio e do telégrafo sem fio. Taça: do Persa täsht, bacia, pires, pelo Árabe vulgar tâsa, designando vaso provido de pé, para beber. Tornou-se em muitos contextos sinônimo de copo. Acerca dos dois modelos clássicos de taça de champanha, há uma curiosidade sobre o copo mais largo, apoiado numa haste: o molde teria sido um dos seios da rainha francesa Maria Antonieta (1755-1793). Ela teve destino trágico, ao final de tantas festas regadas a champanha, especialmente no Palácio de Trianon, presente de seu marido, o delfim, que se tornaria o último rei francês sob o nome de Luís XVI (1754-1793): ambos foram decapitados na Revolução Francesa.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

PIROPO EM PORTUGAL, GALANTEIO NO BRASIL

No Brasil, o piropo tem outro nome. O piropo é antigo em Portugal! Foi sempre tolerado, às vezes aceito por uma minoria, mas hoje o Diário de Notícias relata uma tragédia por causa de um piropo. Para nós, brasileiros, a melhor "tradução" para piropo talvez seja galanteio, quase uma cantada.
"Francisco, de 15 anos, está no hospital em coma após ter sido esfaqueado no pescoço por Cláudio, de 17, que não gostou que ele tivesse atirado um piropo à sua namorada."

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

PORTUGUÊS: PUTO CONSERTA AUTOCLISMO DA RETRETE

Delicioso o livro de Roldão Simas, LÁ & CÁ. Um jornalista brasileiro estava hospedado na casa do amigo português, em Lisboa. A campainha tocou, a visita foi atender para não atrapalhar a sesta do anfitrião. Abre a porta e um jovem se apresenta assim: - Eu sou o puto.
O brasileiro não soube o que dizer e teve que acordar o amigo, que lhe explicou: - Deixa o moço entrar, eu o chamei aqui para consertar o autoclisma da retrete. Alguém entendeu? Puto é menino, rapaz. E autoclisma de retrete é descarga da privada.

sábado, 28 de setembro de 2013

QUATRO ANOS: TEMPO SUFICIENTE PARA MUDAR TUDO

A maioria dos políticos quer a reeleição. Alegam que não podem fazer nada em quatro anos. O papa João XXIII mudou a Igreja e o mundo em quatro anos! Kennedy mudou os EUA em três! JK mudou o Brasil em quatro anos. Os campeões do mundo mudaram o futebol brasileiro em três semanas. Etc. Dia 3 de junho de 1963. Este escritor e professor, então um menino, tem uma dor que não passa. Perdeu dois irmãos que morreram afogados. Vieram avisá-lo no seminário, onde cursa o ginásio. Agora o mesmo padre sinistro, que dera o aviso, reúne os seminaristas para anunciar que acaba de morrer o Papa João XXIII, o papa buono, como era chamado até por inimigos.
Em alguma cidade do interior de São Paulo, os rádios estão ligados. É meio-dia! O locutor imposta bem a voz, semelhando um cantor, talvez um barítono, que, em vez de cantar, fale. São dadas a previsão do tempo, notas de falecimento, avisos de que nasceu mais um rebento ou pimpolho. Ou, se menina, desabrochou uma flor no sagrado lar de algum dos moradores. Só desabrocham as meninas. Dos meninos, o locutor só não diz que vêm a furo, como as espinhas e os tumores, à força, porque o redator é meio contido no estilo. Proclama-se também que Fulano e Sicrana vão contrair matrimônio! Para algumas doenças, o verbo é o mesmo. Assim, contrai-se catapora, sarampo ou caxumba. Se der tempo, falará da colheita e das estradas. Notícias da capital do Estado ou de Brasília, inaugurada há pouco mais de dois anos e construída pelo presidente JK em apenas quatro anos, só aquelas do jornal impresso. A menos que o Repórter Esso, a testemunha ocular da História, irrompa em edição extraordinária. A futura engenheira química e agora presidente da Petrobrás, filha de um Foster e uma da Silva, chama-se Maria das Graças e esta com dez anos. A filha do búlgaro Pétar Rusév e da brasileira Jane da Silva foi registrada como Dilma Vana Rousseff e debutou no ano interior, aos quinze anos, como de praxe. Um dos filhos de uma professora e do prefeito de outra Macondo vai fazer catorze anos. Chama-se Augusto Nunes da Silva. Dali a alguns anos será um dos maiores jornalistas do Brasil.
O locutor noticia o nascimento de algum Paulo ou Rosana, nada de Clayton ou Jessica. Pois justamente neste momento a dona da “rádia” passa pela porta de vidro do estúdio um bilhete escrito a lápis: “A Rádio Vaticano informou que morreu ontem o papa João XXIII ”. Ela soubera pela Rádio Mayrink Veiga, na noite anterior. E o Estadão ainda não chegou àquela Macondo. Sua “rádia” vai dar um furo regional. O locutor emposta a voz para agradar a patroa. Sua voz é boa, mas ele desconhece os algarismos romanos. E sapeca: “...morreu o papa João....(gagueja um pouco)....João xixi”. Apesar da heresia de ter transformado o Sumo Pontífice num mijão, a dona não segura o riso. E o locutor é o primeiro a não entender nada! Assim, João XXIII mergulha nos mistérios insondáveis da pós-morte sorrindo também. À semelhança de Francisco, o atual papa, era alegre o velhinho. Os tristes deixam a vida mais triste. Com sua alegria, em quatro anos, ele mudara para melhor a Igreja e o mundo! (xx)

domingo, 22 de setembro de 2013

MENSALEIROS SOLTOS, MAS A LUA, VÊNUS E CRISTO REDENTOR DERAM OUTROS AVISOS

É verdade que o ministro Celso de Mello enterrou de vez nossas esperanças de ver a ética e a justiça prevalecerem sobre as artimanhas jurídicas. Perdeu a chance histórica de redimir-se de ter absolvido o Collor! Mas, não! Como os outros cinco que votaram com ele, rendeu-se a mais uma das conhecidas chicanas, que desta vez atenderam pelo nome de embargos infringentes, e mandou o julgamento dos mensaleiros para as calendas gregas, para as cucuias. Ou alguém ainda acredita que criminosos condenados, como José Dirceu, José Genoíno, João Cunha et caterva ainda vão para a cadeia? Mas, há sempre algo de bonito na vida. No mês em que caiu essa desgraça sobre o povo brasileiro, envergonhando a todos nós, mas em especial deixando desolados os cinco ministros do STF que queriam pôr atrás das grades os pilantras citados, a Lua, Vênus e o Cristo Redentor nos lembraram a todos que na ordem natural das coisas não há embargos infringentes, e tudo o que é, é o que já foi, vem sendo e será. Os mensaleiros vão continuar roubando, sempre com o apoio de figuras como aqueles cinco, desta vez socorridos na hora H por um dos que já o haviam condenado. E nós, sem a ajuda de ninguém, confiando que aqueles cinco não arredem pé de suas convicções, continuaremos na luta. Enquanto isso, indiferentes a uns e outros, a Lua, Vênus e o Cristo nos haverão de lembrar que, conquanto lutando neste vale de lágrimas, não podemos nos esquecer de transcendências como esta. com que os três, unidos no meio de noite, nos presentearam. Na França, o fenômeno foi noticiado assim: Indescriptible! > > > > LA LUNE , VENUS ET LE CHRIST REDEMTEUR > > EN TOTAL HARMONIE > > (dimanche, 08/09/2013) >

sábado, 21 de setembro de 2013

COSME & DAMIÃO E OS NOMES POPULARES DAS DOENÇAS

Na semana que vem, o calendário celebra Cosme e Damião (dia 26), dois santos que foram irmãos gêmeos. Eles praticavam de graça a Medicina. Eram anárgiros, palavra de origem grega para designar quem é inimigo do dinheiro! Em vários Estados, os dois policiais que andam sempre juntos são chamados Cosme e Damião. Ou Pedro e Paulo. Ou, como ocorre com a polícia feminina, Marta e Maria. Naturalmente, todos eles têm outros nomes. Esses destinam-se a designar as duplas.
Faz mais de dois milênios que as duas duplas bíblicas (Pedro e Paulo, Marta e Maria), ambas do Novo Testamento, apareceram. Somadas a Cosme e Damião, que viveram no século III, integram essa meia-dúzia de personagens emblemáticas na cultura ocidental, que é predominantemente cristã. É provável que esses santos, irmãos gêmeos, sejam inspirados na mitologia grega. O deus Zeus se apaixona por uma mulher muito bonita chamada Leda, esposa de Tíndaro, rei da Esparta. Ardendo de amor por ela e sabendo que seria recusado, Zeus se transforma em cisne e vai nadar nas mesmas águas onde Leda está se banhando. Ela o põe no colo e o acaricia.
Meses depois, ela põe dois ovos, tendo quadrigêmeos. De um dos ovos nascem Castor e Helena. De outro, Pólux e Clitemnestra. Helene e Pólux são filhos de Zeus. Portanto, são imortais. Castor e Climnestra são filhos de Píndaro, e, portanto, mortais. Generoso, o irmão imortal divide sua imortalidade com o outro. Eles passam a morrer e a viver alternadamente. Zeus, então, fixa os gêmeos num lugar onde não possam ser separados nem pela morte: uma constelação que passa a ter o nome deles: Gêmeos.
Como Cosme e Damião praticavam a medicina de graça (na Síria, onde foram martirizados), vamos ver como é que o povo chama "no popular" certas doenças. DIARREIA deu CAGANEIRA. TOXOPLASMOSE, muito perigosa na gravidez, por resultar em má formação do feto, deu DOENÇA DO GATO, por se crer que o animal a transmite. ASCITE é barriga d´água. APENDICITE é PÊNIS, mas no feminino. “Ela foi operada da pênis”, eu ouvia na minha infância. Achava estranhíssimo. Mulher com pênis? É que o povo pronunciava “apênis” em vez de “apêndice”. Então, o médico operava da “apênis”, que soava “da pênis”, mas era o apêndice, um substantivo masculino tornado feminino na boca do povo. TENESMO (dificuldade de mijar ou de ir aos pés) é NÓ NAS TRIPAS. O TRYPANOSOMA CRUZI é BARBEIRO. "Sua filha foi picada por um barbeiro". "Mas ele disse pra ela que era engenheiro". ACNE é ESPINHA. Esta erupção na pele, comum na adolescência, nasceu do erro de um copista do Grego. Ele deveria ter escrito AKMÉ, mas copiou ÁKNE. O povo dá a todas as manchas e feridas um nome só: pereba, palavra do tupi para designar ferida. As doenças têm nomes populares que referem o que sentem, veem e sofrem os doentes. E também os familiares, seus primeiros enfermeiros. De resto, Cosme e Damião foram os últimos anárgiros. Hoje, só pagando. º Da Academia Brasileira de Filologia, escritor e professor, doutor em Letras pela USP.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O MAU LADRÃO OBTEVE EMBARGO INFRINGENTE

Desde tempos imemoriais, muito antes de existir o STF, quem consegue as melhores sentenças não são os justos! No caso em tela, Barrabás foi solto, e o Mau Ladrão (Gestas), como sacou genialmente o cartunista Duke, obteve benefício de um embargo infringente e deu no pé. O bom ladrão (Dimas) e Jesus foram executados. Mas, parodiando o Mestre, ladrões sempre tereis convosco. Um pouco antes de morrer, Jesus disse ao Bom Ladrão: "Ainda hoje estarás comigo no Paraíso". Quer dizer, até mesmo o Céu foi inaugurado por um ladrão! Bom Ladrão, porque arrependido, mas ladrão!